A literatura infantil tem uma relação placentária com o ensino, motivo pelo qual é, muitas vezes, vista como um mecanismo de ensino, o que causa a supressão do seu estatuto artístico, mas, diante dessa prerrogativa, indagamos: é possível estabelecer um contexto de leitura literária formativa no ambiente escolar que seja convidativo à apreciação? Como proporcionar essa leitura literária formativa apreciativa? Esta dissertação tem, como objetivo geral, analisar a compreensão leitora de uma turma de 4º ano pertencente ao segundo ciclo dos anos iniciais do Ensino Fundamental público. Especificamente, buscamos: 1) entender como se apresenta a leitura literária na turma; 2) identificar as narrativas de encantamento que fazem parte do repertório cultural discente; 3) estabelecer mediações de leitura a partir de um conto de fadas e de uma adaptação deste; 4) analisar a ocorrência das funções proppianas nas narrativas discentes. Este estudo se fundamenta na visão de autores que versam sobre letramento, formação leitora, literatura infantil, contos de fadas e recontos, tais como Street (2014), Rojo (2019), Azevedo (2002, 2014), Pontes (2012, 2023), Zilberman (2003), Coelho (2012) e Aguiar (2012). A metodologia de pesquisa utilizada apresenta uma abordagem qualitativa em uma pesquisa-ação. Para a coleta de dados, utilizamos a entrevista semiestruturada com a docente regente da turma, seguida de uma observação participante direcionada aos escolares e sua professora e, posteriormente, mediações de leitura com esse grupo. Para a análise dos dados coletados na pesquisa, utilizamos a análise do discurso, que nos possibilitou identificar um contexto escolar pouco favorável à educação literária. Dessa forma, refletimos sobre a valorização da obra literária como elemento artístico convidativo ao amplo desenvolvimento infantil, incluindo os contos de fadas como um contributo à formação leitora da criança.