Este estudo tem como finalidade analisar como Aldo Rossi atribui, através da memória, sentido à
sua própria prática de arquitetura. Na narrativa fragmentada da Autobiografia Cientifica (2013)
são articulados eventos e imagens que fizeram parte da construção de seu pensamento, tornando-se
fundamental considerá-los na abordagem dos projetos de Rossi. A amplitude e complexidade do
material com o qual lidamos - que consiste em texto, desenhos, fotografias e projetos – nos
demanda a utilização de abordagens comuns ao campo da História da Arte. Neste sentido, o
interlocutor Didi-Huberman, cujo trabalho atualiza à contemporaneidade autores importantes do
começo do século XX, permite nossa aproximação com a montagem, de Walter Benjamin, e com o
Atlas Mnemosyne, de Aby Warburg. Assim, a problemática do sentido autobiográfico da
arquitetura desemboca em outras, como: a do caráter textual; a das particularidades de uma
Autobiografia Cientifica; a das imagens presentes no texto, as quais permitem à arquitetura de
Rossi versar sobre temas. Na utilização destas metodologias, reorganizamos os fragmentos dispostos
por Rossi na Autobiografia Cientifica (2013), dispondo-nos a observar os resultados destas
operações – articulações sobre Vida e Morte surgem como temas recorrentes e fundamentais ao
sentido da obra arquitetônica de Rossi. Desdobramentos surgem em decorrência do mergulho
nestes temas, os quais são aprofundados em subcapítulos: Corpo Morto; Morte, Vida,
Ressurreição; L’Architettura Assassinata; Energia Potencial; Teatros; Felicidade; Cabana. Por fim,
concluímos que o livro se trata de uma exposição das memórias de Rossi que evidencia o método da
analogia, a qual é o cerne de seu processo criativo. Dentro do contexto do pós-guerra italiano,
diante da crise do sentido e em meio à crítica ao modernismo arquitetônico, Rossi destaca a
importância da História e dos meandros da Imaginação para seu ofício - esquecer a arquitetura para
reinterpretá-la de outro modo, enfatizando a importância da memória individual e,
consequentemente, da coletiva.