A fruticultura é uma atividade consolidada no Brasil, posicionando o país como o terceiro
maior produtor mundial de frutas, principalmente devido às condições climáticas favoráveis.
A acerola (Malpighia emarginata D.C.), embora originária da América Central, encontrou no
Brasil seu maior produtor. Entretanto, dada a fragilidade dessa fruta, é comum sua
comercialização na forma de produtos processados, resultando em considerável geração
de resíduos durante o processo. A pirólise lenta e a carbonização hidrotérmica surgem
como tecnologias promissoras para a reutilização desses subprodutos. A pirólise lenta é
um processo termoquímico que converte biomassa, aplicando taxas moderadas de
aquecimento e longos tempos de residência. A carbonização hidrotérmica é um processo
termoquímico que ocorre em um reator, convertendo a biomassa mediante a aplicação de
temperatura à mistura da biomassa com água. Os produtos sólidos resultantes desses
processos são chamados de biocarvão e hidrocarvão, respectivamente, sendo materiais
carbonáceos ricos em grupos funcionais oxigenados. Este estudo abordou a pirólise lenta
e a carbonização hidrotérmica do resíduo de acerola, bem como a obtenção e aplicação do
biocarvão e hidrocarvão como adsorventes de azul de metileno em solução aquosa,
dividindo-se em quatro etapas. Na primeira, realizou-se a caracterização do resíduo de
acerola, voltada para os processos de termoconversão. Na segunda etapa, conduziu-se a
pirólise lenta do resíduo de acerola para obtenção do biocarvão, avaliando os efeitos da
temperatura e do tempo de reação em forno tipo mufla. Na terceira etapa, procedeu-se à
carbonização hidrotérmica do resíduo de acerola, avaliando os efeitos da temperatura e do
tempo de reação. A quarta etapa abordou a adsorção do corante azul de metileno na
biomassa, biocarvão e hidrocarvão, com o estudo da cinética e isotermas de equilíbrio. As
isotermas de equilíbrio mostraram que, sem ajuste de pH do meio aquoso, a quantidade
máxima de azul de metileno adsorvida pela biomassa, biocarvão e hidrocarvão foram de,
respectivamente, 65,57, 29,98 e 36,05 mg/g. Os resultados demonstraram que o biocarvão
e o hidrocarvão do resíduo da acerola são adequados para aplicação como adsorventes do
corante em solução aquosa, sob tempo de contato de 60 minutos e pH entre 10 e 12.
Nessas condições, biocarvão e hidrocarvão adsorvem, respectivamente, cerca de 97,94%
e 98,66% de corante, enquanto o carvão ativado comercial adsorve, aproximadamente,
95,94%. A pirólise lenta e a carbonização hidrotérmica do resíduo do processamento da
acerola mostraram-se tecnologias promissoras para a modificação sustentável desta
biomassa, visando sua aplicação como adsorventes de contaminantes ambientais,
especialmente catiônicos. Além disso, esses processos contribuem significativamente para
a redução da quantidade de resíduos sólidos e para a reciclagem de nutrientes,
promovendo assim uma abordagem mais sustentável no manejo de resíduos
agroindustriais.