Esta pesquisa tem como objetivo analisar a articulação entre o currículo prescrito e o
vivido pelos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), nas salas de aula da
EJA, durante a Pandemia da Covid-19, na Escola Estadual Antônio de Azevedo, em
Jardim do Seridó/RN. Para isso, foram delineados como objetivos específicos:
examinar estudos teóricos que conceituem práticas, saberes, cotidiano e currículo;
analisar saberes e práticas veiculados na articulação entre o currículo prescrito e o
vivido pelos sujeitos da EJA, durante a Pandemia da Covid-19; reconhecer, a partir
dos currículos praticadospensados nos cotidianos da EJA, indícios articuladores entre
os diferentes saberes dos sujeitos envolvidos. Para a consecução dos objetivos, os
eixos de análise estão fundamentados em Freire (1996), Pimenta (1999), Gauthier et
al. (1998), Tardif (2002), Cunha (2004), Oliveira (2005), Santos (2000), Certeau
(2005), e Sacristán (2000). Os sujeitos participantes da pesquisa são docentes e
discentes que vivenciaram o período da Pandemia da Covid-19 na EJA. A metodologia
da pesquisa tem abordagem qualitativa e se apoia nos pressupostos da pesquisa
(auto)biográfica em educação, tendo como corpus da pesquisa as narrativas dos
docentes e discentes sobre a experiência de currículo prescrito e vivido no contexto
da pandemia. Para a construção das narrativas, foram realizadas rodas de conversa
com 07 professores e 15 alunos, na perspectiva de Bogdan e Biklen (1994), e
construídos quadros de escuta, inspirados em Passeggi, Oliveira e Cunha (2018).
Para análise das narrativas, utilizamos os princípios e método da análise temática
interpretativa, ancorados na perspectiva de Schütz (1992) e Jovchelovitch e Bauer
(2000), visto que o instrumento roda de conversa faz parte do universo das entrevistas
narrativas. A pesquisa revelou que muito ainda precisa ser feito pela EJA, com
políticas públicas que garantam a educação como direito, bem como, com políticas
curriculares e de formação docente voltadas, especificamente, para essa modalidade
de ensino. O predomínio de aulas expositivas, as cópias feitas a partir da lousa, o
silêncio frente aos objetos de conhecimento, o ensino de memorização, a ausência de
debates e diálogos sobre as experiências de vida desses sujeitos, são fatos citados
nas narrativas que contrariam o objetivo maior da EJA: uma educação e um ensino
que os levem ao exercício da cidadania, à ativa participação na vida profissional,
política, cultural e, principalmente, voltada para a politização e autonomia do sujeito,
no intuito de transformar ou interferir na sua própria realidade. É preciso inventar, criar,
recriar, reinventar alternativas curriculares e práticas pedagógicas dialógicas,
cooperativas, que contemplem a diversidade de sujeitos e que estejam abertas aos
diferentes processos de subjetivação em andamento entre nós, com orientações
pedagógicas decorrentes das especificidades da EJA, para que de fato, os jovens e
adultos que buscam escolarização possam relacionar o que veem na escola com a
sua participação na vida pública cotidiana, e possam ter acesso aos bens
socioculturais, através de uma educação que lhes dê as condições necessárias para
interagir e progredir socialmente e buscar sua ascensão social. O potencial desta
pesquisa está na perspectiva da ampliação dos debates sobre o currículo da EJA, no
fomento às reflexões que tragam visibilidade e lugar para os sujeitos dessa
modalidade de ensino, e, especialmente, no reconhecimento da identidade dos
sujeitos e suas vivências cotidianas nas construções das práticas curriculares da EJA
no chão da escola.