Esta tese tematiza o funcionamento discursivo da hashtag #EleNão a partir de discursos políticos em
circulação no Twitter. Parte-se da consideração de que a circulação da hashtag, sobretudo em contextos
eleitorais, permite a construção de um cenário político antagônico em um mesmo espaço de circulação,
a partir dos quais é possível descrever os modos de divisão social – neste caso , especificamente, relacionado ao lugar destinado à mulher numa sociedade marcada por ideologias conservadoras.
Investiga-se os deslocamentos que os sujeitos usuários comuns (mulheres) produzem a partir de sua
participação na formulação e circulação das hashtags políticas do Twitter, espaço no qual o discurso político desses sujeitos passa a ser midiatizado. A análise inicia-se a partir do acompanhamento da circulação da hashtag #EleNão e similares em oposição à candidatura e ao posterior governo presidencial de Jair Messias Bolsonaro, algumas das quais fizeram parte dos Trending Topics (assuntos do momento) no Twitter, em diferentes períodos dos anos de 2018 a 2022, que permitiu a construção de materialidades com base nas postagens e comentários dessas hashtags políticas. A observação do movimento das mulheres a partir da hashtag #EleNão realiza-se pelo batimento constante entre teoria-análise-teoria, a partir do qual foram
construídas as seções enquanto espaços teórico-analíticos que constituem o corpus da pesquisa. Cada seção
teórico-analítica diz respeito a um momento singular da reflexão sobre a dimensão discursiva da hashtag
#EleNão, em um percurso que se realiza a partir da retomada das discussões que elucidam a relação entre
discurso e informática empreendidas pelo teórico francês Michel Pêcheux e seu grupo de pesquisadores –
cujas formulações e conceitos servem de base para esta pesquisa – e tem por objetivo final a articulação
entre as noções e conceitos da Análise de Discurso de base pêcheutiana com o desenvolvimento dos
ambientes informáticos, mais especificamente com o funcionamento político da hashtag #EleNão no
Twitter. Durante as seções teórico-analíticas, analisa-se os efeitos na relação linguagem/sujeito/mundo a
partir do funcionamento do digital, busca-se trazer para reflexão as várias possibilidades de expressão que
os espaços disponibilizados pela internet fizeram emergir, proporcionando nova forma de organização de
coletivos, tomando nesta pesquisa o Twitter como este espaço de enunciação dos sujeitos que utilizam a
hashtag política como elemento de resistência. Analisa-se a luta histórica das mulheres na busca por
igualdade de direitos na ocupação de espaços sociais e políticos. Aborda-se questões relacionadas ao espaço
das redes sociais digitais, a construção dos sujeitos e dos sentidos no movimento que se estabelece a partir
do encontro entre perfis e pessoas, entre as ruas e as telas. Discute-se, portanto, como estes perfis/corpos
são constituídos através de perfis digitais nos quais se constituem as subjetividades online, e no âmbito real, fora do digital e deslizam através da hashtag #EleNão. Propõe-se, tomando para a cena, nuances das disputas políticas em torno das hashtags no Twitter, #EleNão e similares, em oposição a Jair Messias Bolsonaro e, a hashtag #EleSim e similares, em apoio a Jair Messias Bolsonaro durante as eleições presidenciais de 2018 e no período de seu governo, a partir da mobilização do dispositivo analítico, delineado pelo recorte do corpus, a saber: o antagonismo. Durante todo o percurso do trabalho identificamos formas de lutas, de resistência das mulheres aos discursos que aprisionam, controlam, cerceiam seus corpos, sustentados por aparelhos ideológicos que “dizem” o que é ser mulher. Dessa forma, compreendemos o discurso feminista como a falha que produz rupturas com o discurso estabilizado que a define sob o olhar patriarcal,
promovendo mudanças, ressignificações, capazes de perturbar a memória, produzindo novas redes de sentidos através da resistência e antagonismo.