Em meio a um longo processo de resistência histórica frente à colonização e à colonialidade, o povo Puri hoje re-existe nos documentos e dados oficiais, lutando por reconhecimento, bem como pela retomada de práticas originárias tradicionais desta etnia que foram silenciadas. Entre os desafios da luta pela ressurgência étnica, há pessoas que não apenas se reconhecem como puris, mas também como pessoas LGBTQIAP+, vivendo na intersecção de diferentes formas de opressão. Desse modo, esta pesquisa analisa as trajetórias de resistência e re-existência de puris LGBTQIAP+ na contemporaneidade, através de uma metodologia autoetnográfica, na qual as experiências vividas da pesquisadora (uma pessoa puri, viado e não-binária) são o lócus de observação e interpretação; enriquecida com entrevistas a outras pessoas que compartilham do pertencimento étnico e da dissidência de gênero e/ou sexualidade. O texto, portanto, segue o fio da minha própria vida. Assim, começo cruzando os anos iniciais da minha vida com os momentos iniciais do processo colonial, observando que em ambos a religião cristã teve um papel predominante no discurso sobre raça, etnicidade, sexualidade e gênero. Em seguida, analiso como a colonialidade se consolidou na busca por integrar os povos originários no nascente sistema capitalista, aplicando os discursos científicos para tanto, sem, contudo, anular o pensamento religioso que imperava entre a população; e a este período cruzo a minha adolescência onde discursos científicos se misturaram aos religiosos na minha busca por uma reorientação sexual. Por fim, no terceiro capítulo, minha própria retomada pessoal da identidade puri se cruza com a luta maior de re-existência do povo, de modo que passo a mapear os principais locais de resistência e re-existência puri LGBTQIAP+. Concluo propondo o nomadismo como uma forma de analisar as experiências e trajetórias tanto de diferentes pessoas puris como da própria etnia em si em sua luta de re-existência, inclusive em relação à diversidade sexual e de gênero.