Esta dissertação se volta para o entendimento da questão: “Como o "funk carioca" contribui
para os embates da violência e para a identificação de territórios percebidos como zonas de
conflitos e quem são os atores urbanos por ele representados e responsáveis pelas disputas
territoriais nesses espaços?”. Deste modo, tem-se como objetivo geral, demonstrar como o
funk, enquanto representação cultural, é capaz de contribuir para a identificação de territórios
de conflito, vivenciados por moradores de favelas e periferias socioeconômicas da Cidade do
Rio de Janeiro. Assim, como objetivos específicos são elencados: (1) analisar nas letras do
"funk proibidão" o texto que contribui para a construção do medo e da paz pela segurança; (2)
entender o "funk" enquanto representação cultural da milícia; (3) correlacionar as novas
delimitações de territórios conflituosos da Cidade do Rio de Janeiro com o "funk de milícia".
Para atingir esses objetivos, adota-se um estudo de caso, como método de pesquisa, tendo
as letras dos estilos musicais denominados “funk proibidão e de milícia” a principal fonte
documental, analisadas num intervalo de tempo entre os anos de 2016 e 2021, quando há a
expansão do domínio miliciano na Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro, reforçando
desigualdades de circulação e acesso a cidade. Como procedimento se utiliza uma
abordagem teórica interpretativa, desenvolvida em 5 etapas. A primeira é dedicada ao estudo
dos conceitos trabalhados, principalmente, representação cultural e necropolítica, explorando
os modos de circulação, constituição e formulação das representações como formas de
demarcação territorial. A segunda etapa, explicita o método de pesquisa utilizado e os
procedimentos escolhidos. A terceira etapa, pretende-se realizar uma contextualização
histórica e territorial do funk carioca, para compreender sua relevância na dinâmica social e
urbana da Cidade. Na quarta etapa, busca-se identificar as representações do “funk proibição”
e do “funk de milícia”, frequentemente associados as músicas que abordam temáticas sobre
o universo da criminalidade. Na quita etapa, será realizada uma investigação de como essas
representações são utilizadas pelos diferentes atores urbanos nas disputas territoriais no Rio
de Janeiro. Tem-se como foco, compreender a expansão das milícias, entendendo que isso
tem contribuído para mudar a forma como os conflitos territoriais são realizados, não se
concentrando apenas nas disputas entre “comandos”, “facções” e seus confrontos com a
polícia. Assim, em considerações finais, foi compreendido como as representações podem
contribuir para a construção das percepções sobre determinados territórios, dando luz em
como as características que formam a necropolítica são utilizadas para exercer o controle
social. Evidenciou-se como o funk ligado às favelas foi intensamente direcionado para a
construção da percepção desses territórios com a intenção de isolá-los e controlá-los.