Esta pesquisa buscou investigar as dinâmicas distintivas e as fronteiras simbólicas realizadas entre frações de elites na cidade de João Pessoa - PB, a partir do universo da moradia, compreendendo aspectos relacionados aos gostos e às práticas residenciais desses agentes, mas também às formas como classificam e se apropriam do espaço físico da cidade. Tal investigação foi direcionada para a apreensão de possíveis intersecções entre os espaços social, simbólico e geográfico, ocupados pelas elites locais. Nesse sentido, a pesquisa se apoia no arcabouço teórico da sociologia disposicional de Pierre Bourdieu, com destaque para as temáticas da distinção, das disputas classificatórias realizadas em diferentes campos, da manifestação do espaço simbólico através dos gostos e das tomadas de posição etc. Apoia-se, ainda, nos estudos das elites, com autores como Michel Pinçon e Monique Pinçon-Charlot, Rachel Sherman, Renato Ortiz e Carolina Pulici, por exemplo. O percurso trilhado para a elaboração da pesquisa partiu de levantamento bibliográfico e documental acerca do desenvolvimento da cidade de João Pessoa sob a perspectiva das elites locais, para identificar padrões de ancoragem territorial dessas frações no espaço físico da cidade. Em seguida, foram realizadas dez entrevistas semiestruturadas com agentes produtores do mercado de "alto padrão", entre proprietários de construtoras e arquitetos consagrados no mercado local, além da análise dos respectivos materiais publicitários, percebendo como classificam a si próprios, a cidade e sua clientela. Outras 22 entrevistas semiestruturadas foram conduzidas com membros das elites locais, em suas respectivas residências, valendo-se ainda da observação participante. Esse cenário permitiu a construção de um micro espaço social, elaborado para a pesquisa, no qual se posicionam as frações de elites estudadas a partir da concentração de capitais econômico e cultural que apresentam. Verificou-se, portanto, a existência de fronteiras simbólicas entre essas frações, manifestadas nas classificações quanto aos modos de morar, ao lazer e aos usos da cidade. Mais ainda, foram percebidas lutas simbólicas travadas na construção da cidade, a partir de um movimento que, embora possa parecer resultado da expansão urbana, traz consigo uma tentativa de segregação. Tanto é assim que, os bairros da orla marítima da cidade, observados como locais de moradia legítima das elites locais, passam a ceder lugar ao bairro do Altiplano "Nobre", este que surge com a promessa de exclusividade, a também significar isolamento. Deparou-se, assim, com frações de elites que não vivem os espaços públicos da cidade, que deles se distanciam a partir de práticas privativas, resultando em uma deserção urbana por esses agentes, que se mostram fechados em "ilhas insulares".