Esta tese alerta sobre a invisibilizacão do patrimônio ferroviário no tombamento da Paisagem
Cultural Cafeeira colombiana e reivindica seu papel na configuração histórica do território a
escala regional, metropolitana e local; atribuindo-se-lhe valor enquanto sistema sociotécnico
que com seu traçado como obra pública articulou o território produtivo, e ao mesmo tempo,
organizou a produção cafeeira. Para isso, propõe-se uma nova periodização na historiografia
regional, baseada nas fases de construção, auge e decadência do ferrocarril, que permete
constatar seu papel inicial como colonizador de territórios ribeirinhos (1870-1920); estruturador
da paisagem cafeeira durante seu funcionamento (1920-70), ao conectar, integrar e tecnificar
territórios produtivos entre serra e porto; e orientador de processos de metropolização e seleção
de polos regionais, após sua decadência (1970-2020). Paralelamente, identificam-se suas ações
de inibidoras ou potencializadoras que deram lugar a diferentes formas de crescimento urbano
na Area Metropolitana Centro Occidente (AMCO), e as morfologias urbanas e rurais dos
entornos dos conjuntos ferroviários, herdadas da relação ferrocarril-tecnificação cafeeira nos
diferentes períodos.
A partir de uma ótica contemporânea, o trabalho reconhece as potencialidades e conflitos do
atual património ferroviário metropolitano para o planejamento territorial, a partir um método
de compartimentação e avaliação morfológica das linhas ferroviárias em unidades de paisagem.
Embora os edifícios ferroviários e industriais do café não tenham um valor arquitetônico
excepcional, seu valor de conjunto permite organizar a paisagem, centralizar as funções
urbanas, delimitar e conectar um sistema territorial de espaços livres públicos que integra o
espaço rural com o espaço urbano, a traves das zonas de proteção ambiental, parques e áreas
principais e de amortecimento do PCC. No entanto, é conflitiva a sua localização em locais de
alto risco, o seu impulso para estender a urbanização, a tendência à ocupação irregular e à
desvalorização do entorno. Neste sentido, conclui-se que urge proteger e recuperar o traçado,
clarificar a sua situação de propriedade, restaurar as infraestruturas, o ambiente natural e
incentivar a sua apropriação social para preservar o conjunto patrimonial.
Para isso, faz-se um apelo à necessidade de utilizar instrumentos de conservação onde o valor
do todo prevaleça sobre o individual, como declarações temáticas, itinerários culturais, vias
verdes e/ou parques agrícolas. Só assim poderão ser definidas ações de proteção e conservação
para um patrimônio ferroviário cafeeiro que possa contribuir para a conexão territorial, para a
superação da fragmentação da paisagem e para a preservação sustentável, integrando atores e
espaços urbanos, periurbanos e rurais que sejam parte das metrópoles cafeeiras.