No presente trabalho, o fracionamento da fase solúvel em MeOH do extrato hexânico
das cascas dos frutos de Porcelia macrocarpa forneceu um grupo (FMEH4-4)
composto por treze acetogeninas acetilênicas (1 – 13), sendo 1 – 7 inéditas na
literatura. Após isolamento, as acetogeninas foram submetidas a avaliação potencial
anti-Trypanosoma cruzi, tanto para formas tripomastigotas quanto para amastigotas
intracelulares. Como resultado, as acetogeninas 2, 3, 12 e 13 mostraram atividade in
vitro com valores de CE50 de 44,2, 12,0, 6,8 e 52,1 µM, respectivamente, para formas
tripomastigotas. Os compostos 12 e 13 também apresentaram valores de CE50 de
10,9 e 9,2 µM frente às formas amastigotas, respectivamente. As demais
acetogeninas se mostraram inativas para ambas as formas. Além disso, as
acetogeninas 1 – 13 não mostram toxicidade frente a células de mamífero, na maior
concentração testada (CC50 > 200 M). Visando a obtenção de novas quantidades
das acetogeninas, o extrato metanólico das cascas dos frutos de P. macrocarpa foi
submetido a partição líquido/líquido e a fase hexânica se mostrou constituída pelos
metabólitos de interesse. Após fracionamento cromatográfico foi obtido o grupo FH3-
4, constituído pelas acetogeninas 8 – 11. O potencial anti-T. cruzi in vitro desse grupo
foi avaliado, sendo obtidos valores de CE50 4,9 e 2,4 µg/mL para as formas tripo- e
amastigotas, respectivamente. Tendo em vista que os compostos 8 – 11,
isoladamente, não mostraram atividade, foi possível sugerir que a mistura presente
no grupo FH3-4 atue sinergicamente. Frente a esses resultados, a exploração do
mecanismo de ação por ensaios fenotípicos frente à tripomastigotas de T. cruzi do
grupo FH3-4 resultou em níveis menores de cálcio intracelular, além de aumento
significativo de ATP e dos níveis de ROS. Análise in silico de parâmetros ADMET dos
compostos 1 – 13 indicaram alta absorção intestinal e nenhum alerta de PAINS, porém
baixa biodisponibilidade. A fim de melhorar tal parâmetro, formulações lipossomais
liofilizadas dos compostos 12 e 13, ativos, foram preparados. O screening dos
lipossomas frente à amastigotas levou a valores de 68,6 e 38,4% de tratamento dos
macrófagos infectados a 0,35 M, sem indício de citotoxicidade. Comparativamente,
o controle positivo benznidazol lipossomal levou a 71,2% de tratamento, a 0,40 M.
Por outro lado, os compostos 12 e 13 livres forneceram valores de tratamento dos
macrófagos muito similares aos observados para as formulações lipossomais (85,0 e
54,0%, respetivamente), porém a 50 M. Além disso, foi realizada um estudo de
metabolômica untargeted a fim de avaliar o metaboloma das formas tripomastigotas
frente ao tratamento com a agetogenina mais ativa (12). Após processamento e
tratamento estatístico, o tratamento com 12 mostrou alterações significativas na
concentração de metabólitos relacionados à composição da membrana plasmática e
vias de sinalização do parasita. Este estudo demonstra o potencial das frações e
compostos identificados como leads para novos protótipos anti-T. cruzi, enquanto
também destaca a necessidade de ensaios futuros, incluindo ensaios fenotípicos e
maior quantidade amostral para validação dos dados de metabolômica.