O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é uma condição psiquiátrica de elevada prevalência,
afetando milhões de pessoas em todo o mundo. A complexidade desse transtorno se manifesta
tanto na diversidade dos sintomas quanto na dificuldade de se compreender sua patogênese.
Atualmente, o DSM e a CID são manuais amplamente utilizados para o diagnóstico dos
transtornos mentais, incluindo o TDM, embasando-se em um modelo biomédico, que está em
constante atualização. No entanto, a literatura aponta limitações substanciais desses manuais, tais
como a ausência de consideração das causas e etiologias dos diagnósticos, inconsistências na
conceitualização de certas condições, baixa confiabilidade entre avaliadores, comorbidades
significativas e a inadequação de um modelo categórico para descrever a gravidade dos
problemas de saúde mental. O objetivo geral da dissertação é investigar o percurso do TDM a
partir da análise de redes. Para tanto, o presente trabalho está organizado em três estudos/partes,
com temáticas complementares mas com estruturas independentes. O Estudo 1 apresenta uma
discussão introdutória da problemática associada ao modelo psicopatológico atualmente vigente,
explorando as possibilidades existentes para sua substituição no campo da depressão. Esse
estudo contribuiu para a justificativa da escolha do paradigma teórico e metodológico dos outros
estudos, que se fundamentam na utilização da Análise de Redes (Network Analysis - NA) como
base metodológica para considerar a psicopatologia como um sistema complexo e dinâmico. No
Estudo 2, foi conduzida uma revisão bibliométrica, seguida por uma revisão sistemática da
literatura sobre a aplicação da NA para investigar a depressão e seus correlatos, utilizando o
protocolo PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses)
como base para a seleção e análise dos artigos. O Estudo 3 consiste em uma pesquisa empírica
com sujeito único, diagnosticado com TDM, em intervenção psicoterápica, cujo objetivo foi
observar se as hipóteses levantadas por Cramer e colaboradores (2016), de que indivíduos
depressivos apresentam sintomas mais conectados em rede do que indivíduos não depressivos, se
confirmam quando aplicadas em um caso acompanhado ao longo do tempo. Para isso foi
realizada uma análise de redes bayesiana. Quando tomados em conjunto, os resultados dos
estudos desenvolvidos indicam que: 1) A literatura atualmente apresenta uma necessidade de
encontrar novas maneiras de responder aos problemas existentes no modelo de psicopatologia
vigente, e a análise de redes surge como uma possibilidade para solucionar alguns desses
problemas; 2) Com a revisão bibliométrica, foi possível observar o aumento no número de
estudos empregando a análise de redes voltada para a depressão no mundo, com um total de 391
estudos realizados a partir dos anos 2000. Já no Brasil, foram encontrados apenas 9 estudos, com
resultados promissores, porém ainda incipientes; 3) A hipótese de Cramer e colaboradores
(2016) foi corroborada com os dados do estudo de caso. Embora impossibilitados de generalizar
esse resultado, é possível indicar um caminho possível de análises mais complexas focadas em
sujeitos únicos, com vistas a uma compreensão mais específica e centrada no indivíduo