A resistência de micro-organismos a medicamentos e tratamentos ineficazes
para doenças negligenciadas são problemas cada vez mais significativos na
sociedade. Portanto, torna-se necessário desenvolver novas alternativas para o
tratamento de infecções, que apresentem atividades antimicrobianas mais robustas,
alta seletividade e menor toxicidade. Os peptídeos antimicrobianos (PAMs) surgem
como uma promissora alternativa terapêutica, devido à sua ampla aplicabilidade e
versatilidade sequencial, atuando como potentes agentes antimicrobianos. Neste
estudo, foram realizadas investigações voltadas ao desenvolvimento de novos
designs de PAMs - originários de diferentes organismos. Os peptídeos utilizados neste
trabalho foram sintetizados pelo método da fase sólida, utilizando a estratégia Fmoc,
purificados por HPLC e caracterizados por LC/ESI-MS. Três grupos distintos de
peptídeos foram testados nos experimentos biológicos, direcionados contra bactérias
do grupo ESKAPE e protozoários causadores de leishmaniose e doença de Chagas.
Os análogos derivados do peptídeo nativo Balteatide, isolado da secreção da pele da
rã Phyllomedusa baltea, foram modificados com substituições simples de lisina e
alanina, direcionados para a ação contra bactérias e Leishmania amazonensis. Os
peptídeos originados da Imcroporina, PAM proveniente do veneno de escorpião da
espécie Isometrus maculates, passaram por substituições pontuais de lisina e foram
avaliados no combate à doença de Chagas e à leishmaniose. Por último, propôs-se
ampliar a atividade antimicrobiana do peptídeo Polybia-CP, originado do veneno da
vespa Polybia paulista, contra as diferentes formas de Trypanosoma cruzi. Os estudos
biológicos com bactérias incluíram o teste de inibição de micro-organismos do grupo
ESKAPE, investigando o mecanismo de ação através da permeabilização e
despolarização de membrana. A ação infecciosa in vivo foi realizada por meio da
infecção da pele de ratos, por abrasão. Nos experimentos contra Leishmania
amazonensis, verificou-se a atividade contra as formas epimastigotas e amastigotas,
além da análise da toxicidade com macrófagos peritoneais de camundongos e
determinação do índice de seletividade. Nos estudos contra o Trypanossoma cruzi, os
efeitos tripanocidas foram avaliados nas formas epimastigotas, tripomastigotas e
amastigotas. A toxicidade foi avaliada nas células hospedeiras LLC-MK2 por meio do
ensaio MTT, e o índice de seletividade (IS) foi aferido. O mecanismo de ação em T.
cruzi foi estudado, em formas epimastigotas, por citometria de fluxo, utilizando os
marcadores 7AAD/AX, DCF e Rho 123, além de microscopia eletrônica de varredura
(MEV). Os resultados obtidos com a família de peptídeos do Balteatide demonstraram
que o [K]1
-Balteatide-NH2 é um potente agente antimicrobiano na superação da
resistência microbiana. Nos testes contra L. amazonensis, destacaram-se [K]5
-
Balteatide-NH2, [K]3
-Imcroporina-NH2 e [K]11
-Imcroporina-NH2 como promissores
leishmanicidas. Quanto às atividades dos peptídeos avaliadas frente ao T. cruzi, [K]3
-
Imcroporina-NH2 e Polybia-CP apresentaram performances significativas. A
abordagem de modificação sequencial dos peptídeos proporcionou informações
relevantes sobre as propriedades físico-químicas e o efeito antimicrobiano, com o
objetivo de estabelecer essa classe de moléculas como novos quimioterápicos
essenciais para a sociedade.