A atuação docente na Educação Infantil pode dispor de referenciais advindos de outras áreas do conhecimento, que embora lidem com objetos e públicos distintos, possuem potencial para promover também, neste espaço, oportunidades de maior autonomia e agência da produção do conhecimento das crianças por elas próprias.
Toma-se a criança como sujeito de direitos que interage com a realidade, e, por isso, produz cultura e conhecimentos. O presente estudo foi realizado com crianças entre 3 e 4 anos de idade, matriculadas em um Centro de Educação Infantil municipal da cidade de Araquari/SC. O objetivo foi compreender como as crianças se envolvem em práticas epistêmicas, ou seja, ações de produção, comunicação, avaliação e legitimação de conhecimentos. Para tanto, foram realizadas propostas orientadas pelo Ciclo Investigativo, sistematizado por Pedaste e colaboradores
(2015). A participação das crianças foi registrada em áudio e vídeo, e posteriormente analisada. Tal análise se deu a partir da elaboração de uma ferramenta de envolvimento em práticas epistêmicas, desenvolvida a partir da
categorização proposta inicialmente por Kelly e Licona (2018), incluindo ações específicas e esperadas do público dessa faixa etária, buscando compreender se as práticas infantis e as práticas epistêmicas poderiam estar relacionadas. Os estudos que mobilizam esse constructo vêm considerando em suas análises, sobretudo, as etapas do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Dessa forma, a opção pela etapa da Educação Infantil procurou investigar essas relações, para então realizar a elaboração de um produto educacional dedicado aos professores, que articulasse tais campos e discussões, que em comum indicam a relevância das interações sociais no desenvolvimento dos indivíduos. Os resultados apontam que as crianças atuaram elaborando questionamentos e levantando hipóteses;
estabeleceram linhas de raciocínio para apoiar suas afirmações; avaliaram hipóteses dos pares, hora concordando e hora discordando, assim como concordaram e discordaram de afirmações de maneira coletiva. Ademais, é notório
que as crianças se utilizam de seus próprios repertórios tanto para compreenderem a realidade quanto para representarem tais compreensões. Neste sentido, a proposição de oportunidades de envolvimento com linguagens para além da verbal, pode fomentar seu envolvimento em negociações e construções coletivas de conhecimentos.