O Debate sobre gênero é uma temática atual e de grande relevância e necessidade de ampliação
do seu leque discursivo, neste escrito, o viés adotado diz respeito às discussões de gênero e
sexualidade, em que o machismo estrutural constituído historicamente e culturalmente,
predispõe um viés binário e heteronormativo no qual os homens são postos em posição de
dominação em relação às mulheres, negando outras existências de gênero e quaisquer
expressões de sexualidade que não atendam ao padrão, e delegando aos homens um lugar de
distanciamento de práticas sensíveis e de cuidado, cobrando-lhes a reproduzir o estereótipo
viril, forte e, por vezes, agressivo. Neste escrito a centralidade se dá mediante a subjetividade
dos homens sertanejos, e especificamente como vivenciam e são impactados pela estrutura
social das masculinidades. O estudo está estruturado em 4 capítulos teóricos que incorporam a
revisão de literatura dessa dissertação sendo estes intitulados: “O lugar das masculinidades no
enlace social: do conceito à práxis”; “Saúde do homem: negligência ao cuidado e ausência de
efetivação da PNAISH”; "Masculinidades, desemprego e violência contra mulheres baseada na
noção social de provedor"; e "(Re)pensando o sertão nordestino: o imaginário social e as
implicações nas relações de gênero". Deste modo, objetiva-se, de modo geral, discutir sobre o
laço social de gênero e masculinidades e os impactos na saúde dos homens sertanejos no
território de Pau dos Ferros/RN; e, de forma específica: Debater os atravessamentos sociais de
gênero, masculinidades e a subjetividade do sertão; Analisar a Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde dos Homens (PNAISH) e dados da VI URSAP/RN, investigando os impactos
da estrutura social machista sobre o cuidado em saúde das masculinidades; e Investigar as
narrativas de masculinidades sertanejas no território de Pau dos Ferros/RN. Propôs-se
metodologicamente uma pesquisa qualitativa, de caráter descritivo e exploratório, através de
revisões de literatura nos capítulos teóricos, e pesquisa de campo nos resultados e discussões,
que viabilizou o contato e alcance de 10 homens, residentes em Pau dos Ferros/RN, na faixa
etária entre 25 e 59 anos, que são docentes ou discentes de uma instituição de ensino superior
privada, objetivando a recolhida das narrativas de masculinidades, investigando seus impactos
e desdobramentos, e que foi realizada por meio de entrevista semiestruturada. Os dados obtidos
foram qualificados através da análise de discurso, categorizando conforme semelhança e
afinidade temática, elencando os principais aspectos mencionados durante as entrevistas de
acordo com os enlaces teóricos encontrados. Os resultados demonstraram que os homens
vinculam a vivência do ser sertanejo ao masculino, sentem profundamente os impactos do
desemprego, que consideram ser maiores no público masculino em virtude da pressão social do
provedorismo. Observou-se ainda que isto reflete na saúde desses sujeitos, afetando-lhes e
ocasionando um grande desgaste emocional, que pode reverberar em práticas de violência. Por
fim, é possível considerar que o machismo estrutural impõe uma pressão para reprodução do
modelo hegemônico de masculinidades; no sertão, isto se acentua pelo imaginário social e
cultural construído e reproduzido, os homens absorvem uma dupla carga dessa tensão para
perpetuação do padrão, o que finda sendo nocivo e agravando a saúde destes indivíduos. Para
além disso, notou-se que oportunizar o momento de diálogo sobre temas diversos e cotidianos
constituiu um acolhimento e ponto de expressão para os homens desta pesquisa, que relataram
sentir-se confortáveis para falar sobre pautas que comumente não abordam, reforçando, assim,
a necessidade da mobilização de políticas públicas que reforcem e estimulem ações integrativas
do público masculino aos debates sociais e, principalmente, ao cuidado em saúde.