Esta tese trata-se de um estudo com enfoque na tradução e retradução, para a língua inglesa, da obra A morte e a morte de Quincas Berro Dágua (1961), do escritor Jorge Amado. Traduzida por Barbara Shelby, The two deaths of Quincas Wateryell foi publicada nos EUA em 1965, pela Alfred A. Knopf, editora responsável por um vasto catálogo de traduções do autor desde o impactante sucesso editorial de Gabriela, clove and cinnamon (1962). Décadas depois, no ano de 2012, surgiu a primeira e única retradução de uma obra amadiana em língua inglesa: The double death of Quincas Water-bray, (re)traduzida por Gregory Rabassa, célebre tradutor de Literatura Hispano-Americana e Brasileira. Partindo da noção de tradução como prática cultural que impacta sistemas literários e culturas, este estudo foca em aspectos sócio-históricos, políticos, culturais e ideológicos subjacentes à cena tradutória amadiana do século XX. Além disso, discutimos a prática cultural da retradução, sua consolidação como objeto teórico- analítico e suas principais características e especificidades. A existência de duas ou mais traduções circulando em um sistema literário estrangeiro levanta questões sobre as motivações de se retraduzir, que podem variar da necessidade de “atualização” de obras consideradas “envelhecidas” à instauração de novas interpretações. Desde as primeiras teorizações sobre a retradução, uma hipótese passou a insurgir-se como horizonte para estudos contrastivos entre dois ou mais textos traduzidos: a Hipótese de Retradução, que concebe as novas traduções como sendo mais elaboradas e mais orientadas a um texto e à sua cultura de partida, relegando um status inferiorizado às primeiras traduções (Berman, 1990). Buscando, também, atestar esta hipótese no contexto das obras deste estudo, operamos uma análise a partir de elementos linguísticos representativos de práticas sociais, culturais e linguísticas da Bahia ficcionalizada por Jorge Amado. No texto de A morte e a morte Quincas Berro Dágua (1961), esses elementos insurgem-se enquanto “problemas tradutórios” por pertencerem a universos socioculturais distantes das culturas estrangeiras anglófonas, exigindo dos tradutores operações muito específicas. De modo a discutirmos e analisarmos se essas práticas tradutórias se mostraram estrangeirizadoras ou domesticadoras (Venuti, 1999; 2004) nos textos traduzidos (Amado, 1980[1965]; 2012), foram coletadas e organizadas em fichas analíticas unidades lexicais e expressões oriundas das três versões do texto amadiano. As unidades lexicais analisadas foram classificadas em três categorias semântico-culturais: toponímicas; antroponímicas; relacionadas à cultura afro-brasileira; e expressões populares do Português Brasileiro. Somados a aspectos outros, como oralidade e estilo, esses dados consubstanciaram uma discussão que buscou atestar se a retradução inglesa de Quincas Berro Dágua é mais estrangeirizadora que sua tradução prévia. Os resultados do estudo indicaram que práticas tradutórias estrangeirizadoras e domesticadoras estão presentes em ambos os textos de Shelby e Rabassa, não permitindo uma sentença em absoluto.