O ensino da redação dissertativa se tornou prática hegemônica na escola desde a obrigatoriedade da prova de redação nos exames vestibulares, imposta pelo Decreto Presidencial no 79.298 de 24/02/1977, e se consolidou com o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Nas aulas de língua portuguesa da Educação Básica brasileira, tal prática relegou o ensino da argumentação aos aspectos gramático-textuais da redação dissertativa e negligenciou o ato de argumentar (Azevedo, 2015; Vidon, 2018; Piris, 2020), limitando o desenvolvimento das capacidades argumentativas dos estudantes (Azevedo, 2013; 2016). Diante desse problema, propomo-nos a produzir subsídios para atender a competência geral número 7 da Base Nacional Comum Curricular e a contribuir com uma proposta de ensino de leitura argumentativa no âmbito da argumentação como prática social de linguagem, com a finalidade de propiciar ao estudante a oportunidade de posicionar-se de maneira crítica e autônoma perante situações que o desafiem a defender e negociar pontos de vista com base em informações seguras, éticas e cientificamente balizadas, e com respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos. Assim, nesta pesquisa, envidamos esforços para compreender de que maneira podemos produzir atividades de leitura argumentativa que possam contribuir para o ensino da argumentação e favorecer o desenvolvimento das capacidades argumentativas de estudantes de ensino médio. Para tanto, nosso objetivo geral é compreender como a produção de um módulo didático de leitura argumentativa contribui para o aprimoramento das estratégias de leitura e escrita nas aulas de Língua Portuguesa. A metodologia de nossa pesquisa se caracteriza como bibliográfica, teórica e propositiva, pois visa a (1) discutir quais critérios poderiam ser adotados para o ensino da argumentação como prática de linguagem que ultrapasse o modelo hegemônico do ensino da redação dissertativa, bem como (2) apresentar uma proposta de ensino especificamente dirigida à leitura argumentativa. A fundamentação teórica mobiliza (1) os postulados dos letramentos sociais de Street (2006; 2014 [1995]) e Kleiman (2005; 2007; 2008; 2014 [1995]), (2) o ideário da educação emancipadora de Freire (2021 [1996]) e do ensino da argumentação emancipadora de Azevedo e Piris (2023), (3) o ensino da argumentação como prática social de linguagem de Azevedo e Tinoco (2019) e Piris (2021) e (4) a concepção de leitura argumentativa desenvolvida por Grácio (2013), Azevedo, Reis e Monte (2021) e Azevedo, Santos, Calhau, Leal e Piris (2023), (5) a concepção de gênero discursivo de Bakhtin (2022 [2016]). A proposta de ensino de argumentação como prática social é realizada com base nos princípios de elaboração do módulo didático, conforme orientam Azevedo e Freitag (2020).