A pesquisa intitulada A argumentação e o livro didático de português do Ensino Médio: análise de atividades de produção textual da coleção Estações, aprovada no PNLD/2021 analisa a proposta de ensino de argumentação do referido material didático a partir das atividades de produção textual em torno da argumentação. O objetivo geral da pesquisa consiste em analisar tais atividades a fim de perceber marcas da teoria da argumentação como prática social de linguagem. A pesquisa concentra-se na análise detalhada das atividades supracitadas com base em critérios específicos e para uma finalidade específica: estudar o livro didático à luz da teoria de argumentação elaborada por Piris (2021). Dentre as principais noções operatórias dessa perspectiva teórica, destaca-se o modelo dialogal de argumentação proposto por Plantin (2008), em que a argumentação somente acontece em uma situação comunicativa em que os argumentadores praticam os atos argumentativos de propor, opor-se e duvidar. Sob essa ótica, a situação argumentativa é definida como um confrontamento de discursos em torno de uma questão argumentativa, como possibilidades de resposta a uma mesma pergunta. Para examinar as estratégias argumentativas no material didático, a teoria recorre às contribuições da Nova Retórica, de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005). Por fim, para discutir a questão de ensinar a argumentar utiliza-se o conceito de capacidades argumentativas, relativo às capacidades de linguagem que correspondem às ações realizadas pelos argumentadores, de acordo com Azevedo (2016). A coleção Estações possui sete livros, mas o recorte de pesquisa recaiu sobre o livro Rotas de atuação social e, mais precisamente, as seções Viagem e Desembarque, que focalizam a produção textual e onde se localizam as atividades de argumentação com visada argumentativa, nos termos de Amossy (2018). Realizou-se uma pesquisa qualitativa, documental e de cunho interpretativista. A análise considerou seis critérios: tipo de atividade, finalidade, conteúdo de ensino, situação argumentativa suscitada pela atividade, estratégias argumentativas mobilizadas pela atividade e capacidade (s) argumentativa (s) motivadas (s). A pesquisa justifica-se pela necessidade de praticar a argumentação na aula de português, pois não há orientações claras para isso nos documentos oficiais norteadores do ensino de língua materna e as aulas destinadas à argumentação geralmente se restringem a falar sobre ela. Entende-se que praticar a argumentação é importante para que o educando possa aprender a participar de interações que envolvam a defesa de um ponto de vista sobre um determinado tema, aprimorando seu senso crítico. Crê-se que tais atividades exploram os contextos de produção e circulação dos discursos, buscando identificar enunciados de comando que remetam a uma oposição de discursos, a processos de negociação e sustentação de pontos de vista, às pistas das técnicas argumentativas motivadas por cada atividade e às capacidades argumentativas mobilizadas, segundo Azevedo (2016). A pesquisa mostrou que, no livro didático analisado, o ensino de argumentação está atrelado ao trabalho com gêneros discursivos na aula de português e que, diferente de certas coleções aprovadas no PNLD, o livro não menciona termos teóricos específicos do campo da Argumentação, como auditório, doxa, ethos, pathos, logos, etc. O estudo mostrou também que o material didático favorece o desenvolvimento e o aprimoramento gradual das capacidades argumentativas dos estudantes, em benefício de sua competência discursiva, nos termos de Azevedo (2013). Por fim, o estudo revelou que as atividades analisadas criam condições para que o educando possa agir pela linguagem, propiciando maior protagonismo em sua atuação social, dentro e fora da escola, em vez de constituírem um fim em si mesmas.