Este trabalho apresenta, com os devidos controles sócio-histórico, paleográfico e filológico, a edição semidiplomática de uma amostra composta por documentos variados, em sua maioria epistolar, datados entre os séculos XVII e XIX (1698-1809), com ênfase em manuscritos do século XVIII. A edição e disponibilização dessa coleção documental – Manuscritos de Comissários Baianos do Santo Ofício – fazem parte da segunda fase do projeto Corpus Eletrônico de Documentos Históricos do Sertão (CE-DOHS), que contempla manuscritos produzidos entre 1640 e 1822 por diferentes grupos populacionais nascidos no Brasil, desde 1590. Os critérios para a edição dos documentos foram inspirados nas normas do Projeto para a História do Português Brasileiro – PHPB e nas diretrizes do Centro de Estudos, Pesquisa e Documentação Paleográfica do Memória e Arte (CEPEDOP) (Lose, 2019). O estudo, aqui realizado, também examinou as
Oliveira, 2014; Cardoso, 2016; Cavalcante; Figueiredo, 2009; Torres; Berlink, 2006, entre outros). O referencial teórico adotado é o da Sociolinguística Histórica (Conde Silvestre, 2007; Mattos e Silva, 2008a), que, por meio de uma metodologia quantitativa, investiga os fatores internos e externos que condicionam a variação e a mudança linguística observadas nos textos escritos. Os resultados indicam que a terceira pessoa gramatical (singular), seguida da segunda pessoa do plural, são os contextos mais produtivos para uso de dativos. Na terceira pessoa do singular, as formas predominantes incluem o clítico lhe e a preposição a, um padrão observado também na terceira pessoa do plural. Em contrapartida, há sinais de inovação na segunda pessoa do singular e plural: na segunda pessoa (singular), o clítico lhe, tradicionalmente associado à terceira pessoa, aparece com frequência, enquanto na segunda pessoa do plural, são comuns a preposição a e o objeto nulo, havendo poucas ocorrências do pronome lhe. Tais resultados sugerem um comportamento conservador na amostra, mas também apontam para a inovação no sistema pronominal, com o uso de formas típicas de terceira pessoa em contextos de segunda pessoa (singular e plural) e o emprego restrito da preposição para na terceira pessoa (singular e plural). Sendo assim, os dados analisados demonstraram que o uso majoritário da preposição a, seguido do clítico lhe, aponta para uma tendência de conservadorismo e formalidade na escrita. Entretanto, a presença de outras preposições, como para e de, nos mesmos contextos, sugere que, já no século século XVIII, era possível vislumbrar a variação no uso dos complementos dativos no português brasileiro.