Nesta dissertação, realiza-se o estudo das marcas de inabilidade em manuscritos do século XXI, textos produzidos por alunos da Educação de Jovens e Adultos, comparando-os com textos escritos por mãos inábeis dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX. O desenvolvimento deste trabalho se dá a partir da agenda constituída e adotada pelo Corpus Eletrônico de Documentos Históricos do Sertão (CE-DOHS-UEFS), e, mais especificamente, pelo projeto Documentos produzidos por “mãos inábeis”: estudos linguísticos e filológicos (CONSEPE 083/2020). Para isso, foi realizada a constituição do corpus, 27 textos escritos por indivíduos marcados por um processo de escolarização entrecortado e oriundos de segmentos sociais excluídos historicamente, a fim de responder se as marcas de inabilidade presentes nos textos escritos dos nossos estudantes de hoje já estavam presentes nos textos do passado? E se esses escreventes refletem em sua escrita as dimensões de inabilidade? Para esse corpus, Escritas da EJA, documentos inéditos, propõe-se a análise: a) da dificuldade em representar a escrita de sílabas complexas com /r/, /l/ e /s/; b) da contextualização do perfil sociocultural dos estudantes; c) da caracterização das mãos no contínuo de inabilidade; d) do estudo comparativo com corpora de épocas anteriores: XVII (Marquilhas, 2000); XVIII (Barbosa, 1999); XIX (Oliveira, 2005); XX (Santiago, 2019). Considerando a produção de textos escolares contemporâneos, se, por um lado, colabora-se com a tarefa de propiciar um melhor tratamento metodológico ao processo de constituição de corpora, minimizando os desafios enfrentados pelo pesquisador em Sociolinguística Histórica, por outro lado, colabora-se para um melhor refinamento do trabalho de ensino-aprendizagem da escrita para jovens, adultos e idosos. Conclui-se que os desvios ortográficos analisados neste estudo se espelham em registros de mãos inábeis dos séculos passados, como nos casos de grafias semelhantes e representadas em diferentes séculos, como perta por preta (XVII e XXI), perçizo por preciso e agardeci por agradeci (XVIII e XXI), memo por mesmo e gotu por gosto (XIX e XXI), civirso por serviço e severnte por servente (XX e XXI). No cotejo dos dados, foi concluído, também, que há mais mãos situadas no grau de inabilidade parcial, seguidas da inabilidade máxima, e menos com inabilidade mínima.