Neste estudo, analisa-se a expressão variável do futuro do pretérito no português falado em Feira de Santana e Salvador-BA. O futuro do pretérito possui características temporais e modais, expressa diferentes noções semânticas, como o valor de hipótese, de incerteza, de possibilidade, e alterna seu uso, principalmente na variedade informal, com o pretérito imperfeito. Assim, há variações entre o futuro do pretérito (FP) e o pretérito imperfeito (PI), em contextos de verbos não modais como, por exemplo, ―se eu pudesse, estudaria mais‖ ou ―se eu pudesse, estudava mais‖ e ainda com as formas perifrásticas iria estudar e ia estudar, respectivamente; além de ocorrer também em verbos auxiliares modais, por exemplo: deveria estudar/devia estudar. Defendendo que a alternância entre FP e PI acontece de forma suprarregional e seguindo os fundamentos da Teoria da Variação e Mudança Linguística (Weinreich; Labov; Herzog, 2006 [1968]), foram analisados nesta pesquisa dados de 70 entrevistas, do tipo DID (Diálogo entre Informante e Documentador), da fala urbana de Feira de Santana e de Salvador. As 36 entrevistas de Feira de Santana fazem parte do banco de dados do projeto A Língua Portuguesa no Semiárido Baiano, coordenado pelas professoras Norma Lucia F. de Almeida e Zenaide de O. Novais Carneiro; as amostras de Salvador são compostas de 24 entrevistas do Programa de Estudos do Português Falado de Salvador (PEPP), coordenado pela professora Norma Lopes, e 10 que pertencem ao projeto Norma Urbana Culta no Brasil (NURC), coordenado pela professora Jacyra Andrade Mota. Com o intuito de verificar os contextos linguísticos e sociais que motivam essa variação, as ocorrências do fenômeno linguístico foram submetidas ao programa GoldVarb X, o qual revelou que PI, variante usada como regra de aplicação, é mais frequente (56%). Na análise principal dos dados, o programa também selecionou como significativos os seguintes grupos de fatores linguísticos: ̳tipo de texto‘, ̳valor temporal vs. valor modal‘, ̳ambiente sintático- semântico‘, ̳saliência fônica‘ e ̳referência temporal‘. Respectivamente, os fatores de cada grupo que favorecem o uso de PI em contextos de FP são sequência narrativa (0,70), valor temporal (0,79), período hipotético em ordem canônica: prótase + apódase (0,69) e oração encaixada com prótase coocorrente (0,90), verbos de 2a e 3a conjugações (0,67), referência temporal no passado (0,65). Quanto aos fatores sociais, foram selecionados a ̳escolaridade do informante‘, sendo o PI favorecido pelos informantes do ensino fundamental (0,65) e ensino médio (0,64), e a ̳faixa etária do informante‘, cujo fator que favorece PI é a faixa etária III (0,68), com informantes a partir de 65 anos. Ainda que PI tenha sido favorecido nesses contextos, FP se destaca em outros fatores que compõem cada variável, portanto, verificou-se que a alternância entre as variantes é equilibrada e aponta para uma variação estável.