Esta tese tem como objeto de investigação as táticas espaciais de autoconstrução relativas à gambiarra urbana na produção cotidiana dos territórios populares. Objetiva contribuir para a reflexão crítica sobre essas práticas, que ultrapassem uma leitura simplista e dicotômica do fenômeno. A partir de uma perspectiva liminar, a pesquisa busca friccionar os binários formal e informal, projeto e desordem, planejamento e improviso e vislumbrar nexos mais horizontais entre esses pares dialéticos. Dada a frágil e descontínua atuação do Estado nesses territórios, parte da premissa de que os grupos populares desenvolvem maneiras singulares de enfrentar a precariedade e a escassez de recursos materiais, econômicos e tecnológicos e criam repertórios próprios e inventivos de autoconstrução. A gambiarra urbana se apresenta como uma das modalidades táticas que esses grupos dispõem para adaptar e subverter seus espaços cotidianos. Como aproximação empírica, investiga o caso referência do conjunto de favelas da Maré, na cidade do Rio de Janeiro, e propõe uma taxonomia dos dispositivos táticos da GAMBIARRA URBANA POPULAR ali identificados. Trabalha-se com as hipóteses de que a tática da gambiarra pode atuar como microrresistência à lógica do projeto urbano hegemônico e pode apontar para abordagens mais transversais entre o saber e o fazer no campo do projeto e da prática da arquitetura e do urbanismo nesses contextos. Defende ser necessário articular, estratégica e taticamente, maneiras outras de pensar, narrar, fazer e aprender com aqueles que sempre construíram, com as ferramentas possíveis, seus espaços de existência e resistência.