A disponibilidade de recursos hídricos e a necessidade de energia elétrica para abastecimento industrial e residencial motivou o Brasil a investir na implantação de usinas hidrelétricas. Devido à topografia peculiar, o estado do Paraná se destaca pelo alto índice de aproveitamento do potencial hidrelétrico dos seus corpos d’água, o que fomenta de certo modo o desenvolvimento econômico. Contudo, por trás do discurso do desenvolvimento socioeconômico ocasionado por projetos hidrelétricos, existem impactos sociais que devem ser expostos. Por exemplo, a construção da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu (UHEBI), implantada entre os municípios paranaenses de Capanema e Capitão Leônidas Marques, reconfigurou e ainda reconfigura os territórios de agricultores familiares destes municípios e dos municípios de Nova Prata do Iguaçu–PR, de Planalto–PR e de Realeza–PR, ocasionando a desterritorialização de inúmeras famílias do espaço rural, cujo impacto foi perceptível antes e depois da formação do lago artificial. A presente tese, intitulada A reconfiguração territorial dos agricultores familiares atingidos e reassentados pela implantação da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu (PR), teve como objetivo geral analisar a reconfiguração territorial dos agricultores familiares atingidos e reassentados pela implantação da UHEBI. A pesquisa possibilita que outros públicos conheçam a respeito dessa problemática e compreendam alguns exemplos do contexto territorial no período pré e pós-barragem e pré e pós-reassentamento. A pesquisa reporta o período de 2013 a 2024, com foco qualitativo, cujos dados empíricos do estudo são da triangulação de três fontes: a) análise documental; b) entrevistas semiestruturadas (sujeitos/localidades) e; c) mapas e registros fotográficos em campo. Logo, embasou-se teoricamente nas discussões conceituais em prol do território e correlacionou com as análises de documentos impressos e digitais. As entrevistas ocorreram com 7 (sete) agricultores familiares reassentados no Reassentamento Rural Flor da Serra, no município de Realeza–PR. Também, foram elaborados mapas de localização e de topografia para melhor compreensão dos fatos, assim como, registros fotográficos das propriedades visitadas. Com base nos resultados, pôde-se compreender no processo de desterritorialização da população atingida que sofreram a violação de direitos, o não reconhecimento da condição de atingido, a desvalorização territorial material e imaterial e a hierarquização e a resistência nas relações de poder. Já o processo de reterritorialização, ficou marcado pela conquista do território reassentado e a possibilidade de reprodução dos modos de produção da agricultura familiar, mesmo com pouco auxílio do consórcio empreendedor no período pós-barragem, assim como, o fortalecimento da comunidade reassentada sob o auxílio do Movimento dos Atingidos por Barragens e da própria associação. Sendo assim, a pesquisa é considerada importante por registrar e promover reflexões, conhecimento sobre a trama gerada pela instalação da usina hidrelétrica e os impactos ambientais e sociais.