O Estudo do Meio (EdM) tem se configurado como um método de ensino e pesquisa dialógico e interdisciplinar, no estudo da realidade, que promove a conexão entre os saberes resultantes das práticas cotidianas, das observações e interações no espaço concreto, com o conhecimento científico. Procuramos, nesta tese, compreender de qual modo o EdM, como método de ensino, foi se constituindo historicamente e a forma a qual vem sendo empregado na Geografia escolar a fim de contribuir com o refinamento de suas apreensões teórico-metodológicas. A investigação de metodologia qualitativa englobou pesquisas bibliográficas sobre o EdM na educação escolar e no ensino de Geografia; pesquisa exploratória nos cadernos e artigos de professores que participaram do Programa de Desenvolvimento da Educação no Paraná (PDE); e pesquisa sobre a presença do EdM nas escolas estaduais paranaenses por meio de questionários e entrevistas com professores(as). Verificou-se, de forma sistemática, que o EdM começou a se delinear como uma prática pedagógica no movimento de renovação do ensino na Europa (a partir do final século XVIII). No Brasil, os EdM foram inseridos inicialmente nas escolas livres (com influência de imigrantes europeus e articulação do movimento dos trabalhadores no início do século XIX). Após a II Guerra Mundial, são desenvolvidos principalmente nas escolas experimentais e nos colégios vocacionais, relacionados à proposta da Escola Nova. Já com a redemocratização, o EdM, em uma perspectiva crítica e dialética, se destaca o Estudo do Meio, desenvolvido em um processo colaborativo no âmbito disciplinas de práticas de ensino da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP) e escolas de Educação Básica entre as décadas de 1980 3 1990. Na década de 1990, o Estudo do Meio tem centralidade na proposta de Reorientação Curricular pela Prática da Interdisciplinaridade na cidade de São Paulo (governo de Luiza Erundina com Paulo Freire e Mario Sergio Cortella na Secretaria de Educação). Tais iniciativas foram difundidas, no ensino escolar, e principalmente na educação geográfica por Nídia Nacib Pontuschka. Nos últimos 20 anos tem sido incorporado nas escolas brasileiras com iniciativas isoladas de professores, em projetos de parceria entre escolas e universidade em diversas instituições educativas. O EdM, com essa nomenclatura e utilizado intencionalmente e conscientemente como um método, ainda se mostra restrito e, muitas vezes, sendo realizado sob o nome de aula de campo, trabalho de campo, aula passeio, visita de estudos etc., e, de acordo com a pesquisa, esse é o diagnóstico nas escolas paranaenses. Destacamos alguns pressupostos e princípios do estudo do meio que potencializam sua ação no ensino e no processo educativo, como: dialogicidade, trabalho colaborativo, interdisciplinaridade, ensino com pesquisa, autonomia e protagonismo, observação e pesquisa no meio concreto para compreensão da realidade, relação teoria/prática, relação vivência/conhecimento científico, práxis. Embora ainda pouco expressivo em relação a outras práticas escolares, oculto, ou escondido com outra nomenclatura, o EdM tem grande potencialidade na educação geográfica, voltada para um olhar crítico, construtivo e participativo para sociedade. Verificou-se que, como síntese do depoimento dos professores e nos trabalhos analisados, o EdM, é realizado principalmente voltados para compreensão de aspectos do meio de vivência do estudante, meio local, com atividades realizadas no meio escolar e seu entorno, no meio urbano e no meio rural, em áreas de conservação, nos espaços públicos, em indústrias, tanto em pequenos municípios quanto em grandes centros. O EdM tem assim permeado as práticas pedagógicas em diferentes tempos e espaços, protagonizado por professores e estudantes, que procuram sua atualização e adequação ao contexto em que estão, mesmo com as barreiras para sua execução, muitas vezes decorrentes da própria organização do sistema de ensino e das escolas, sobretudo quando envolvem trabalhos de campo em atividades extraescolares. Com a pesquisa, realizamos um resgate das práticas do Estudo do Meio, trazemos uma caracterização do Estudo do Meio nas escolas paranaenses e propomos uma sistematização do método/metodologia do estudo do meio a fim de fomentar a sua prática. Entre as medidas necessárias para ampliar tais práticas nas escolas estão: desenvolvimento de políticas públicas de incentivo e viabilização a projetos interdisciplinares de EdM; reorganização do currículo escolar; a práxis do EdM em cursos de formação de professores; a valorização da educação escolar e do trabalho docente, pesquisas e práticas que promovam o Estudo do Meio articulado com a nova geração de estudantes, e com as tecnologias digitais, mas sem deixar de integras o trabalho de campo e o contato direto com a realidade.