A variação no uso de artigo definido acompanhando possessivos vem sendo observada na língua portuguesa com dados do português brasileiro e do português europeu (Silva, 1982; Castro, 2006; Floripi, 2008; Schei, 2009; Magalhães, 2011; Sedrins; Pereira; Silva, 2017; Brito, 2019). Pesquisas previamente realizadas sobre o fenômeno permitem generalizações a respeito do tema, como a constatação de uma predominância do preenchimento de artigo definido na variedade europeia e um comportamento variável do artigo entre os falantes brasileiros no contexto de possessivos. Diante disso, essa pesquisa observou o comportamento variável do artigo definido diante de possessivos pré-nominais contemplando uma variedade africana, o português falado em Luanda, sendo esse representante do português angolano, a fim de contribuir para a descrição da norma de uso do português dessa variedade não europeia, bem como buscar indícios a respeito do efeito do contato linguístico em sua formação, que se deu em situação de contato com línguas africanas do grupo banto. A investigação buscou descrever e analisar a omissão do artigo definido e seus padrões de variação à luz dos pressupostos teóricos e metodológicos da Teoria da Variação e Mudança Linguística (Weinreich; Labov; Herzog, 2006 [1968]; Labov (2008 [1972]). Para essa finalidade, utilizou-se um corpus de com dados orais de fala da variedade urbana luandense, coletado por meio de entrevistas sociolinguísticas gravadas na capital angolana nos anos de 2008 e 2013 com participantes que declararam ter o português como primeira e segunda língua, pertencente ao acervo linguístico do projeto de pesquisa “Em busca das raízes do português brasileiro - Fase III”, sediado no Núcleo de Estudos da Língua Portuguesa da Universidade Estadual de Feira de Santana. Por meio da análise estatística dos dados quantificados, os resultados revelaram que a variabilidade do artigo definido diante de possessivos na comunidade de fala é condicionada tanto fatores linguísticos, como função sintática, ausência ou presença e tipo de preposição, tipo de substantivo e gênero e número do núcleo do sintagma nominal, e também por fatores de ordem social, como faixa etária e língua materna do falante, com indícios de transferências estruturais das línguas bantas para o português. Ademais, verifica-se que, em um continuum, a norma angolana aproxima-se da norma brasileira, indicando uma possível convergência resultante de processos históricos compartilhados que configuraram a realização do fenômeno. Portanto, a investigação contribui com a agenda de estudos que investigam a realidade sociolinguística das variedades africanas da língua portuguesa, bem como para a ampliação do conhecimento sobre os efeitos do contato linguístico nas variedades do português.