Esta dissertação analisa a economia lógico-conceitual que fundamenta o programa de Jacques Lacan no Seminário A Ética da Psicanálise (1959/60), com foco na articulação entre ética, desejo e lei simbólica. No que diz respeito à metodologia de investigação, a pesquisa filia-se à tradição brasileira da Filosofia da Psicanálise, tal como consolidada por Luiz Roberto Monzani (1991/2008), cujo rigor metodológico oferece um arcabouço para investigar o Programa Ético Lacaniano em três critérios interligados: genealogia conceitual, análise estrutural e crítica epistemológica. No primeiro capítulo, aborda a causalidade moral no complexo de Édipo, explorando a nomeação e as fases da constituição do sujeito desejante (estádio do espelho e três fases do Édipo), que culminam na internalização da lei simbólica pelo significante Nome-do-Pai. Lacan critica as Ego Psychologys por reduzirem a dinâmica psíquica ao gerenciamento de bens desejáveis, propondo, em contrapartida, uma ética baseada na responsabilidade do sujeito frente ao seu desejo. No segundo capítulo, examina os fundamentos epistêmicos da ética lacaniana, destacando a leitura de Freud em textos como o Entwurf e a Carta 52, para mapear a topologia da subjetividade. Identifica dois princípios fundamentais: o princípio do prazer, que organiza o pensamento e constitui o inconsciente, e o princípio da realidade, que estrutura a percepção e a consciência. Lacan aponta uma ruptura em Freud com a postulação de Das Ding (A Coisa) como objeto impossível, definindo o desejo como metonímia da falta fundamental. No terceiro capítulo, investiga as implicações políticas da ética do desejo, tomando a figura de Antígona como paradigma de fidelidade radical ao desejo, que confronta nomos (Lei dos Homens) e dike (Lei dos Deuses), revelando a inconsistência da estrutura da lei simbólica. Conclui-se que a irredutibilidade do desejo abre caminhos para novas formas de existência coletiva, sugerindo um diálogo entre psicanálise e filosofia política.