Estudos recentes têm demonstrado que crianças de 24 meses calculam es-
trutura sintática enquanto ouvem frases (BERNAL et al., 2010; BERNAL, 2006;
BRUSINI, 2012) - teses de doutorado. Usando potenciais cerebrais relacionados
a eventos (ERPs), esses estudos mostraram que as crianças de 24 meses testadas
apresentaram respostas diferentes de ERP para sentenças gramaticais quando com-
paradas a sentenças agramaticais. Foi possível ver uma ativação cerebral diferente,
quando nomes foram substituídos por verbos e vice-versa tornando as sentenças
agramaticais. Isso sugere que as crianças possuíam uma expectativa em relação
à gramaticalidade dessas frases, tanto quando foram testadas com palavras reais
do seu dia-a-dia, quanto quando eles foram expostos a novas palavras aprendidas
no laboratório. Esses resultados nos mostram que as crianças processam as cate-
gorias de palavras de maneira online. Nosso objetivo aqui é ir um passo além e
compreender como as crianças processam estruturas argumentais. Se as crianças
de 24 meses são capazes de processar categorias de palavras, verbos e nomes, de
forma diferente, talvez elas façam o mesmo com categorias verbais mais refinadas.
Se isso for verdade, é de se esperar um efeito de gramaticalidade quando as crianças
ouvirem frases agramaticais. Em verbos de múltiplos argumentos, esses argumentos
têm estruturas específicas. Frases com proposições como complemento de verbos de
transferência, por exemplo ‘dar’, são agrammaticais. Por outro lado, essa mesma
estrutura é perfeitamente gramatical em verbos de comunicação, como por exemplo
‘dizer’ (cf. exemplos abaixo). A fim de investigar o conhecimento de bebês sobre
esse tipo de restrição, realizamos um experimento de ERP com adultos e crianças de
dois anos de idade. Os participantes assistiram passivamente a filmes, enquanto sua
atividade cerebral era registrada. A parte experimental dos filmes contava com sen-
tenças respeitando a estrutura sintática de verbos como em (1) ou violando-a como
em (3). Note-se que a estrutura em (3) não pode ser usada com verbos de transfer-
ência, mas é perfeitamente gramatical em verbos de comunicação, tal como em (2).
Esperamos que se as crianças processarem a estrutura sintática desses verbos, então
elas devem apresentar uma resposta cortical diferente entre os diferentes tipos de
frases. O objetivo deste experimento é contribuir para desvendar o enigma de como
as crianças adquirem uma língua, a partir do entendimento de como elas processam
estruturas argumentais. Para ser mais específica, buscamos compreender se depois
de 2 anos de maturação da cognição de linguagem crianças sabem inconscientemente
que certos verbos entram em estruturas argumentais específicas, o que significa que
elas também estão cientes de que certas raízes verbais, mesmo que plausíveis na
arquitetura da linguagem, resistiriam entrar em outra estrutura possível. Nossos
resultados demonstram exatamente nossa predição. Aos 2 anos nossos participantes
já apresentaram ativação cortical distinta para frases gramaticais vs. agramaticais.