Vivenciamos uma crise global sem precedentes nas dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais e éticas. Essa crise resulta da capacidade de resiliência do sistema hegemônico em reconfigurar formas de exploração instituídas pelas múltiplas facetas do capitalismo. Desde os fins do século XIX a sociedade hegemônica submete o homem e a natureza às relações sociais e de trabalho de desigualdade social caracterizada pela exploração, opressão e alienação, empobrecendo o modo de produzir e reproduzir a vida dos trabalhadores e trabalhadoras. Com
esse modo de produção estruturado na propriedade privada dos meios de produção de bens que estimula o consumismo regido pela égide capitalista em sua materialidade desvaloriza e desrespeita o corpo do trabalhador, fragmentando-o em sua subjetividade. Nessa trama, emergem um conjunto de alternativas e práticas denominadas em seu conjunto de Socioeconomia Solidária. Centrada na organização coletiva, solidária e autogestionária essa iniciativa traz um novo olhar para a geração de trabalho e renda que carrega a possibilidade de ressignificação do corpo. Esse contexto justifica o objetivo desta pesquisa, de compreender a ressignificação do corpo feminino
em processo de educação a partir da produção da vida coletiva em uma experiência de organização do trabalho associado através da Socioeconomia Solidária no município de Cáceres-MT. Para a compreensão desse fenômeno, buscamos as bases teóricas em autores como: Karl Marx, Singer, Arruda, Brandão, Soares, Medina, entre outros. A pesquisa se sustentou pela abordagem de pesquisa qualitativa, embasada na técnica da Pesquisa Participante por entender que este método de investigação possibilita o compromisso social do pesquisador com grupo pesquisado e no seu contexto. As protagonistas, sujeitos da pesquisa são as mulheres que compõem o Grupo de Mulheres do Empa, um bairro periférico do município de Cáceres-MT. Os principais instrumentos utilizados foram os estudos bibliográficos, observação participante, questionário socioeconômico, entrevista semiestruturada e Rodas de Conversa. Os resultados preliminares demonstraram que o Grupo de Mulheres do Empa, caracteriza-se como um grupo
informal que se encontra em processo de organização para o trabalho associado. Nessa trama de contradições e enfrentamentos contra hegemônicos à subserviência do capital, o corpo feminino em debate por meio do diálogo nas relações e práticas sociais cotidianas, acredita que a Socioeconomia Solidária é uma alternativa para que as mulheres através da autogestão e do trabalho associado possam garantir o próprio trabalho e gerar a própria renda, em uma via que as permitam, no seu contexto, gestar a harmonia da vida. Observamos que essas mulheres trazem consigo na subjetividade do corpo feminino a concepção ontológica da mulher responsável pela organização da casa, dos afazeres domésticos, da dedicação aos filhos e ao esposo e também ao trabalho. Evidenciamos que o Grupo de Mulheres do Empa apresenta relações sociais dialógicas permeadas por princípios solidários e coletivos no modo de produzir a vida. Percebemos que esse corpo feminino em processo de educação, encontra-se mais autônomo e participativo, numa dinâmica de ressignificação em busca de emancipação social. Mas, ainda há um longo caminho
apercorrer. Essa ressignificação do corpo passa por construir contra hegemonia e descontruir valores hegemônicos internalizados, e nesse processo a Educação Popular é fundamental para a ressignificação do corpo feminino, para que se fortaleça e se materialize a perspectiva da Socioeconomia Solidária embasada no trabalho associado pelo viés da autogestão.