As políticas públicas de habitação, para pessoas com faixa de renda de 0 a 10 salários mínimos, são recentes no Brasil, iniciando-se a partir dos anos 1940, ganhando maior relevância nas décadas de 1970 e 1980. Entre 1990 e meados da década de 2000, as políticas públicas para a habitação (e outras) perdem relevância, com a intensificação e materialização dos planos neoliberais. Com o intuito de diminuir o déficit habitacional, o Brasil retorna as políticas públicas de habitação, para a população de baixa renda, a partir de 2009, com o maior de seus programas habitacionais, o Minha Casa Minha Vida (MCMV). As bases desta política habitacional foram construídas, principalmente com a implantação do Estatuto da Cidade, em 2001, com a criação do Ministério das Cidades em 2003, com a aprovação do Plano Nacional da Habitação, em 2004, e com o Funda Nacional de Habitação, em 2006. Todos os programas tiveram/têm por objetivo diminuir o déficit habitacional e impulsionar a economia brasileira, a partir de investimentos na construção civil, o que, somente em parte, tornou-se realidade. É a partir desta conjuntura que foram traçados os objetivos para esta tese, que se fundamenta no debate sobre políticas públicas para habitação social no Brasil, bem como em seu processo de criação e de implementação para a cidade de Paranavaí, no Paraná. Assim, o objetivo é o de analisar a relação entre discurso, prática e poder na execução das políticas públicas de habitação social, neste município, a partir do estudo de dois conjuntos habitacionais, originados de políticas públicas diferenciadas: o Conjunto Habitacional Dona Josefa, que foi construído através do financiamento da Companhia de Habitação do Paraná (COHAPAR), na modalidade Mutirão – Casa da Família (inauguração em 1992) e o Conjunto Habitacional Deputado Flávio Ettore Geovine, localizado no Bairro Jardim Ipê, construído pela Caixa Econômica Federal, pelo regime de empreitada global, através do Programa Minha Casa Minha Vida (inauguração em 2011). Para fundamentar a abordagem, foi realizado um debate sobre poder, Estado e neoliberalismo e sua vinculação às políticas públicas habitacionais. Como contribuição apresentam-se os resultados dos estudos de caso, vistos como singularidades para compreensão das políticas de habitação social, com as mesmas origens, em outras regiões do Brasil. Associado ao contexto socioeconômico e político daí decorrente (a vida e a sua prática) está o distanciamento entre discurso e prática, entre o que consta na legislação e a realidade posta, entre o que apregoam os responsáveis pelas políticas habitacionais do poder público e do poder privado.