O presente trabalho investiga o relacionamento homoerótico masculino praticado entre um homem adulto (erastés) e um jovem (erómenos) denominado pederastia, que ocupou um importante papel social em Atenas durante o período clássico, se constituindo em um instrumento pedagógico de formação do futuro cidadão. Utilizamos como documentação os diálogos homônimos Banquete(Συμπόσιον) do filósofo Platão e do polígrafo Xenofonte, a fim de que possamos apreender o modo como estes autores compreendem a pederastia praticada em seu tempo e quais os seus objetivos a elaborarem em um curto espaço de tempo diálogos com título e temática semelhantes. Escrito por Platão em aproximadamente 384 a.C.,o Banquetetrata-se de uma reflexão do filósofo acerca de Eros e sua influência na vida dos homens, no qual Platão procura demonstrar de que maneira a pederastia deveria ocorrer para que fosse considerada virtuosa. Neste sentido, Sócrates se constitui no maior exemplo de um homem que possui autocontrole em relação aos seus desejos, convertendo-se no paradigmaplatônico de kalokagathos, ou seja, um homem bom e belo tanto estética quanto moralmente. Do mesmo modo, por volta do ano de 380 a.C., o polígrafo Xenofonte imprime suas reflexões sobre o relacionamento entre erastés e erómenosescrevendo um diálogo também intitulado Banquete, elegendo Sócrates como seu modelo de kalokagathos e abordando o homoerotismo em conjunto com outras temáticas. Defendemos que o fio condutor das duas obras seja a busca pela kalokagathia e que a pederastia, quando praticada de acordo com os valores morais defendidos por estes autores,representava um veículo para a obtenção da virtude.