Estudo sobre o processo de criação literária promovido por Antônio Torres em Meu querido canibal (2000), que destaca a ―canibalização‖ como procedimento de releitura intertextual de uma tradição literária e cultural brasileira. O romance de Torres possui uma composição híbrida, fortemente identificada pela incorporação de uma diversidade de discursos que marca o procedimento intertextual empreendido na obra. Assim, a apropriação do canibalismo não fica restrita à caracterização do herói Cunhambebe, uma vez que se estende à perspectiva do narrador e à atuação do autor na incorporação de suas ―leituras canibalizadas‖. Nosso aporte teórico contempla autores da tradição literária do período colonial brasileiro e sua respectiva fortuna crítica, até trabalhos contemporâneos que sinalizam um olhar diferenciado sobre a cultura brasileira, além do uso de entrevistas com Antônio Torres. Ao realizar um projeto de escrita fundamentado na ―devoração‖ cultural, Meu querido canibal aproxima-se do Concretismo, Cinema Novo, Tropicalismo e Geração Mimeógrafo. Estes movimentos atualizam uma estratégia de recuperação/devoração das inovações de diferentes matrizes culturais, com o intuito de se pensar na construção de um fazer artístico com caráter de abertura, de flexibilidade e de mistura.