Introdução:Estudos realizados com o intuito de tratar a doença periodontal durante a gravidez, visando a redução de desfechos gestacionais adversos, apresentaram resultados conflitantes, sendo difícil estabelecer alguma evidência científica sobre o assunto. A possível relação entre Doença Periodontal (DP) e desfechos adversos na gestação foi levantada há tempos. A ocorrência do parto normal está ligada a um processo de indução inflamatória que constitui um gatilho de trabalho de parto. A DP, da mesma forma, induz a liberação de vários mediadores quimicos inflamatórios, inclusive a PGE2 e citocinas inflamatórias, e essas podem agir como estímulos externos à distância por estresse inflamatório. Assim, a medição de biomarcadores inflamatórios, local ou sistêmica, pode ser utilizada para determinar o estado da inflamação periodontal, e o resultado da terapia periodontal não-cirúrgica em gestantes, no intuito de corroborar a plausibilidade biólogica desse quadro. Objetivos: Realizar duas revisões sistemáticas sobre o tema, sendo a primeira delas com meta-análise, para determinar o efeito da terapia periodontal não-cirúrgica no período pré-concepcional ou durante a gestação sobre desfechos gestacionais adversos, especificamente parto prematuro, baixo peso ao nascer e pré-eclâmpsia; e, a segunda, para analisar os efeitos da terapia periodontal não-cirúrgica durante a gestação sobre biomarcadores inflamatórios e desfechos gestacionais adversos. Metodologia: As revisões sistemáticas foram realizadas de acordo com o protocolo descrito pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), no período de julho de 2015 a março de 2016. Foram avaliados ensaios clínicos randomizados e não-randomizados com gestantes portadoras de periodontite crônica, tratadas antes ou após a concepção, comparadas com gestantes sem tratamento, além da avaliação dos biomarcadores inflamatórios antes e após o tratamento periodontal não-cirúrgico, relativa aos resultados adversos da gravidez. O efeito da terapia periodontal foi avaliado em gestantes considerando-se os seguintes desfechos adversos: prematuridade (nascimento < 37 semanas ou < 35 semanas), baixo peso ao nascer (< 2.500g) e pré-eclâmpsia. Resultados: Em cada revisão realizada, foram encontrados quatro estudos que preencheram os critérios de inclusão, nos quais mulheres que receberam terapia periodontal não-cirúrgica (raspagem e alisamento radicular) durante a gestação foram comparadas com mulheres que não receberam tratamento ou receberam profilaxia e orientação de higiene oral. No primeiro estudo, a meta-análise não mostrou redução nos partos prematuros < 37 semanas (1.11; IC95%: 0,89 - 1,37; p = 0,36), partos prematuros < 35 semanas (0.93; IC95%: 0,77-1,13; p = 0,46), baixo peso ao nascer (1.03; IC95%: 0,74 - 1.43; p = 0,87) e pré-eclâmpsia (1.25; IC95%: 0,58 - 2,70; p = 0,56) entre os grupos teste e controle. Não foram encontrados ensaios clínicos com análise do efeito do tratamento periodontal pré-concepcional. Na segunda revisão sistemática, a terapia periodontal não-cirúrgica durante a gravidez reduziu os níveis de biomarcadores inflamatórios periodontais no fluido crevicular gengival (FSG) e alguns do soro do sangue, mas foi ineficaz na redução dos biomarcadores no sangue do cordão umbilical, não demonstrando relação clara com os desfechos gestacionais. Conclusão: O tratamento periodontal durante a gestação não reduz a ocorrência de desfechos gestacionais adversos, embora melhore os parâmetros clínicos periodontais, diminua os níveis de biomarcadores inflamatórios periodontais presentes no fluido do sulco gengival e reduza os níveis de CPR e IL-6rs no soro. O efeito do tratamento periodontal pré-concepcional sobre desfechos gestacionais adversos permanece sem resposta na literatura. Possivelmente o tratamento periodontal durante a gestação seja tardio para controlar os efeitos das inflamações local e sistêmica desencadeadas por microorganismos patogênicos.