Introdução: No Brasil, até junho de 2015, foram notificadas 92.210 gestantes infectadas pelo HIV. Isso representa uma taxa de 2,6 casos para cada mil nascidos vivos, com um aumento de 30% dos casos de 2000 até essa data. No Distrito Federal, são estimadas 100 gestantes diagnosticadas com HIV anualmente na rede pública de saúde. A assistência odontológica a essas gestantes e a avaliação da assistência tornam-se importantes, uma vez que muitas manifestações indicativas de imunossupressão ocorrem na cavidade bucal. Objetivo: O estudo tem como objetivo principal conhecer qual a percepção que mulheres gestantes convivendo com HIV/AIDS e cirurgiões-dentistas têm sobre a assistência em saúde bucal a essa população. Método: Optou-se pelo delineamento misto concomitante. A abordagem com as gestantes foi qualitativa, por meio de uma entrevista semiestruturada, realizada com gestantes convivendo com HIV/AIDS, usuárias do Sistema Único de Saúde, atendidas na Unidade Mista de Saúde da Regional Sul, da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). A abordagem com os cirurgiões-dentistas foi quantitativa, por meio da aplicação de um questionário estruturado que foi enviado via e-mail para profissionais da SES/DF. A amostra da pesquisa foi formada por 5 gestantes e 143 cirurgiões-dentistas. As entrevistas com as gestantes foram analisadas pela técnica de análise do conteúdo de Bardin (2011). Com cirurgiões-dentistas, foi feita uma análise estatística, da qual se extraiu a frequência percentual e absoluta de cada dado relevante, utilizando o teste Qui-Quadrado para testar a independência entre as variáveis. Resultados: As gestantes manifestaram receio de preconceito e discriminação profissional, social ou familiar, embora tenham avaliado o acolhimento e tratamento na Unidade Mista como humanizado. Para elas, o tratamento do HIV e os cuidados para evitar a transmissão vertical foram prioritários em relação à percepção da importância da saúde bucal. A maioria dos dentistas que participou da pesquisa já teve experiência no atendimento a pacientes com HIV, sendo que 20% dos participantes declararam já terem atendido a uma gestante com HIV e 60% afirmaram que esse tipo de gestante pode ser atendida em qualquer unidade de saúde. A avaliação de adequadas condições de biossegurança foi determinante para a percepção de preparo profissional e disposição de atendimento a pacientes com HIV. Conclusão: Os resultados da pesquisa indicam, por parte da maioria dos dentistas, senso de preparo e disposição para atendimento às gestantes com HIV, desde que adequadas condições de biossegurança sejam observadas. O acolhimento e tratamento humanizado a gestantes com HIV, sem preconceito ou discriminação, devem ser preocupação constante por parte de profissionais da saúde bucal. Entende-se que esses resultados possam sensibilizar os gestores para que ações de educação permanente sejam implementadas e que avaliações e capacitações sobre normas de biossegurança em todas as unidades de saúde da SES/DF possam ser conduzidas de forma continua.