Introdução
O hematoma subdural crônico (HSDC) é definido como coleção hemorrágica no espaço subdural, resultante de lacerações de veias em ponte da convexidade cerebral, com volume crescente e lentamente progressivo. É provocado, na maioria das vezes, por traumatismo de crânio de baixa transmissão de energia, mas pode estar associado isoladamente à atrofia cerebral e coagulopatias, em especial em pacientes idosos.
Objetivo
Estudar o perfil clínico e epidemiológico de uma série de pacientes operados de HSDC na Unidade de Neurocirurgia do Hospital de Base do Distrito Federal com ênfase na população idosa.
Método
Trata-se de estudo descritivo, observacional, do tipo série de casos com análise retrospectiva de prontuários eletrônicos de pacientes submetidos à cirurgia de HSDC, no Hospital de Base do Distrito Federal, entre janeiro de 2014 e dezembro de 2015. Foram avaliadas as seguintes variáveis: idade, sexo, uso de anticoagulante, antiagregante plaquetário, classificação do TCE (leve, moderado, grave), sinais e sintomas de apresentação, escala de coma de Glasgow (ECG) na admissão e alta, escala de desfecho de Glasgow (EDG), lateralidade do hematoma, intercorrências, tempo de internação hospitalar no período pós-operatório imediato, mortalidade durante a internação, mortalidade no primeiro ano de seguimento e recorrência do HSDC em um ano. As análises dos dados foram realizadas no programa IBM SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) 21, 2012. Foi realizada análise exploratória dos dados, testes de associação, utilizando seleção de variáveis baseadas na inserção de variáveis (método forward stepwise: condicional, razão de verossimilhança e Wald) e na retirada de variáveis (método backward stepwise: condicional, razão de verossimilhança e Wald).
Resultados
Foram realizadas análises de 328 prontuários de pacientes operados de HSDC. A grande maioria dos pacientes era do sexo masculino (92,5%). Os resultados foram divididos em dois grupos, conforme a faixa etária: grupo 1, com pacientes com menos de 60 anos (n = 102) e grupo 2, pacientes com mais de 60 anos (n = 226). A faixa etária dos pacientes variou entre 20 e 96 anos. A média de idade geral foi de 65,73 anos, +/- 18,09 anos. A média de idade dos pacientes no grupo 2 foi de 75,5 anos +/- 9,1. Os pacientes com mais de 60 anos (grupo 2) corresponderam a 68,9% dos casos. Quase metade dos pacientes avaliados possuía mais de 70 anos. O aumento da idade correlacionou-se com maior mortalidade. O uso de AAS e anticoagulante na população geral e na idosa não se correlacionou com piores desfechos. Na população do grupo 2, houve 33 óbitos internados (14,6%) e 14 óbitos em um ano após a cirurgia (6,2%). Houve somente um óbito na população do grupo 1 (0,98%) durante a internação e nenhum ao longo do primeiro ano.
Conclusão
HSDC é doença frequente na prática neurocirúrgica, com baixa morbidade, mas que pode levar a alta mortalidade na população idosa. Apesar da maioria dos pacientes idosos que recebem alta após a cirurgia apresentarem boa recuperação funcional no pós-operatório tardio, HSDC pode representar um evento sentinela. O aumento da idade é um fator prognóstico isolado importante e bem estabelecido na literatura. O conhecimento do perfil epidemiológico e eventuais fatores de risco da população com mais de 60 anos operada por HSDC na Unidade de Neurocirurgia do HBDF é passo inicial para a implementação de cuidados específicos e prevenção de agravos futuros.