Introdução: A Lesão Renal Aguda (LRA) associada à gestação pode ser definida como
a queda abrupta da função renal durante a gestação ou puerpério e é importante causa
de morbi mortalidade materna e fetal. Objetivo: classificar a função renal das pacientes
admitidas na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Materno Infantil de Brasília
(UTI/HMIB) por meio do critério do KDIGO e correlacioná-lo com a mortalidade
materna. Métodos: Estudo retrospectivo, observacional em que analisaram- se todas as
pacientes atendidas na UTI/HMIB, de janeiro de 2014 a abril de 2016, com diagnóstico
de LRA. Todas as pacientes com diagnóstico de LRA foram incluídas. Aquelas com
diagnóstico de insuficiência renal prévia à gestação ou transplantadas renais foram
excluídas. Resultados: De 619 pacientes admitidas na UTI/HMIB durante o período em
estudo, a LRA ocorreu em 172 casos (27.8%). A principal etiologia de internação em
UTI foi eclampsia (n: 63, 36.6%), pré-eclampsia (n: 39, 22.7%) e sepse (n:27, 15.7%). A
hipertensão arterial sistêmica ocorreu em 53 pacientes (30.8%) e 15 tiveram
insuficiência cardíaca (8.7%). Em 13 pacientes (7.6%) o pré-natal não foi realizado e
133(71.5%) o tipo de parto foi a cesariana. O tempo de permanência na UTI foi de 7.6
±10.2 dias e a mortalidade materna foi de 8.7% (n: 15) e a mortalidade do recémnascido
foi de 14.5% (n: 25). Cento e dez pacientes foram classificadas como KDIGO
estágio 1 (64%, mortalidade de 0.9%), 43 como KDIGO estágio 2 (20.9%, mortalidade
de 11.1%) e 22 pacientes como KDIGO 3 (15.1%, mortalidade de 38.5%). Na avaliação
de sobrevida em 28 dias houve diferença, estatisticamente significante, entre os
estágios do KDIGO (p<0.0001). Com relação à hemodiálise 13 pacientes (7.6%)
necessitaram da terapia. Estes apresentaram maior APACHE II (26±8 vs 11±6,
p<0,001), mais necessidade de ventilação mecânica invasiva (92.3% vs 24,1%,
p<0,0001), mais necessidade de droga vasoativa (92.3% vs 11.9%, p<0.0001) e maior
necessidade de hemoderivados (53.8% vs 6.9%). Além disso, os pacientes que
necessitaram de hemodiálise apresentaram menor pressão arterial média na admissão
à UTI (66 ±25 vs 93±21 mmHg, p<0.0001) e menor utilização de terapia com sulfato de
magnésio 7.7% vs 74.2%, p<0.0001). Nenhum paciente classificado em KDIGO estágio
3 que ficou em tratamento conservador para terapia renal substitutiva evoluiu para o
óbito. Conclusão: A classificação de LRA associada à gestação, utilizando os critérios
do KDIGO, relacionaram se diretamente com mortalidade, especialmente, nas
pacientes que necessitaram de terapia renal substitutiva. Isso reforça a importância da
indicação de diálise no momento adequado, bem como classificar a LRA,
especialmente, nas pacientes críticas, pois isso possibilita inferir prognóstico. O
APACHE II, SOFA escore, necessidade de ventilação mecânica invasiva, utilização de
vasopressores e hemotransfusão foram maiores no subgrupo que necessitou de
hemodiálise. Já as pacientes com maior pressão arterial média na admissão e maior
utilização de terapia com sulfato de magnésio não necessitaram de hemodiálise.