O estudo aqui apresentado parte de dois questionamentos, a saber: o primeiro está
diretamente ligado à necessidade de compreender os reais propósitos sociais, políticos e
econômicos que está por traz da implantação do Perímetro Irrigado do Tabuleiro de Russas
– CE. O referido perímetro está localizado entre os municípios de Russas, Limoeiro e
Morada Nova, ambos localizados no Estado do Ceará. O segundo questionamento busca
entender como as comunidades locais foram atingidas de forma direta e indireta, discutindo
os impactos na configuração territorial provocada pela implantação do perímetro. Dentro
dessa mesma discussão, este estudo, busca discutir como essas comunidades se
organizaram para promover a resistência quanto à forma de conceber e praticar as politicas
do Estado. Para buscar compreender o primeiro questionamento foi necessário entender
que um projeto dessa natureza atende a um propósito vinculado ao contexto dos anos 70,
que por sua vez tinha como objetivo, através da intervenção do Estado, transferir a
modernidade ao setor agrícola, com o advento de novas técnicas de irrigação. No limiar
dessa discussão, buscamos entender de fato quem são os verdadeiros beneficiados com
essa modernização. Afinal de contas, até que ponto essa modernização promove o advento
do novo, sem transformar as velhas estruturas, promovendo o que alguns autores chamam
de “modernização conservadora”? Partindo da premissa, apontada pelas pesquisas já
existentes, (FREITAS, 2010; ALVES, 2012; BRAGA, 2010), que tais projetos causam
profundos impactos territoriais, tendo em vista que os mesmos foram concebidos pela
perspectiva territorial econômica (HASBAERT, 2001; FERNANDES, 2007), gerando assim a
tensão natural de atores sociais com interesses divergentes, o foco dessa pesquisa é a
dimensão social desses impactos, mais precisamente a expropriação sofrida pelos
moradores locais. Para o levantamento de dados da pesquisa em fontes primárias, foi
realizada uma entrevista semiestruturada, com representante de dois segmentos sociais
locais: pequenos agricultores e representantes dos sindicatos e associações de moradores
e produtores. As fontes secundárias têm como base os livros, revistas impressas e
eletrônicas, periódicos, jornais, sites, teses e dissertações, artigos, monografias, entre
outros. Tais pesquisas nos propiciaram diversas constatações, entre elas destacamos o
enorme abismo entre a proposta do projeto de irrigação e o seu real impacto na vida dos
moradores locais. Constatamos ainda que a comunidade local demonstrou ao longo dos
anos de implantação do projeto de irrigação uma enorme capacidade de organização social
e resistência através de mobilizações e pressões junto aos órgãos governamentais, bem
como através das formas alternativas de se organizarem para promover a produção
econômica e social.