Introdução: A prematuridade é comum em gestações complicadas por hipertensão. No entanto, os estudos referentes ao desfecho da criança prematura nascida de mães hipertensas são conflitantes. Estudos referentes à qualidade do cuidado pré-natal dispensado às gestantes hipertensas também são escassos e preocupantes, pois revelam a baixa qualidade do atendimento nesse grupo de risco. Objetivo: Analisar a associação da Síndrome Hipertensiva Gestacional (SHG) e outros fatores de risco com a ocorrência de complicações neonatais como Leucomalácia Periventricular, Displasia Broncopulmonar, Retinopatia da Prematuridade e óbito (Artigo 1) e descrever e avaliar o impacto da qualidade do acesso ao pré-natal, sobre o tempo de internação e a ocorrência de desfechos maternos e neonatais desfavoráveis (Artigo 2). Método: Estudo observacional, prospectivo de recém-nascidos únicos, prematuros e sem comorbidades, além da hipertensão, no período de novembro/2013 a setembro/2017. O local do estudo foi o Hospital Materno Infantil - HMIB do DF, um hospital público, de referência para atendimento de casos de alta complexidade relacionados à pediatria e à ginecologia/obstetrícia. Após aplicação dos critérios de exclusão, restaram 1.191 prematuros com idade gestacional (IG) entre 24 e 36 semanas e 6 dias. Para o estudo dos desfechos neonatais, levando-se em consideração a presença ou a ausência de hipertensão e outros fatores de risco (Artigo 1), a amostra foi estratificada por peso abaixo de 1.500g (n = 273). Para a análise dos desfechos maternos e neonatais na presença ou ausência de pré-natal adequado (Artigo 2), foram selecionadas apenas as gestantes hipertensas (n = 261). Foi utilizado o índice de Kessner para classificação do acesso ao prénatal como adequado ou não adequado (intermediário ou inadequado), delimitando assim os grupos de estudo do Artigo 2. Os dados foram obtidos a partir de entrevista, cartão da gestante e prontuário eletrônico. Na análise estatística, utilizou-se o t-Test ou Mann-Whitney, ANOVA, chi quadrado, cálculo de risco e intervalos de confiança (IC) a 95%. Após análise bivariada de comparação das frequências e médias referentes aos desfechos neonatais entre os grupos de estudo, foram conduzidas para regressão logística multivariada as variáveis independentes com p-valor < 0,20 na análise univariada. Resultados: A SHG não foi confirmada como fator de risco para a mortalidade ou para os desfechos desfavoráveis no período neonatal. Embora a cobertura tenha sido satisfatória (98%), apenas 35% das gestantes hipertensas tiveram acesso adequado ao pré-natal. Fatores de risco como mau passado obstétrico e gestação na adolescência não garantiram melhor acesso ao pré-natal. Os filhos de gestantes hipertensas com pré-natal adequado, a princípio considerado como grupo-controle, foram mais prematuros, mais suscetíveis a nascer com muito baixo peso (< 1.500g) e morreram mais que os filhos de gestantes sem pré-natal adequado. Displasia broncopulmonar, hemorragia cerebral, Apgar <7 no 1º minuto e óbito neonatal foram mais frequentes nos recém-nascidos com pré-natal adequado, mas se relacionaram apenas com a prematuridade após análise multivariada. Não houve óbito materno e o tempo de internação e ocorrência de eclampsia e HELLP foi semelhante entre os grupos. Conclusões: A SHG não acrescentou risco ao desfecho neonatal. Em contraste ao que se observa em gestações de risco habitual, o acesso adequado ao pré-natal não foi capaz de garantir melhor desfecho aos filhos prematuros de gestantes hipertensas. É preciso aprofundar com urgência a análise da qualidade da assistência pré-natal e ao parto de gestantes hipertensas direcionadas ao atendimento em unidade terciária do DF para interrupção prematura da gestação. Palavras-chave: Hipertensão Induzida pela Gravidez, Prematuro, Mortalidade, Desfecho, Cuidado Pré-natal, Qualidade da Assistência à Saúde.