A mobilidade da população é uma característica histórica presente na realidade do Haiti. Tal fato se deu devido às consequências políticas, econômicas e sociais desencadeadas pela Revolução Negra no século XIX, cujo maior efeito tem sido a intensificação dos fluxos migratórios. Inicialmente, as rotas dessa mobilidade se direcionavam aos países da própria América Central, Caribe e também aos países da América do Norte, como o Estados Unidos, um dos principais destinos. Essa tendência se alterou nos últimos anos à medida que a mobilidade haitiana se voltou a países como o Brasil, devido a sua crescente visibilidade internacional como país emergente e também pelas barreiras impostas pelas políticas migratórias do governo norte-americano. Na região sul, o fluxo migratório haitiano, impulsionado pelo crescimento industrial e pela grande demanda por mão de obra, levou à concentração de um número considerável de imigrantes vivendo nessa região. As principais atividades desenvolvidas pelos haitianos no mercado de trabalho estavam relacionadas às linhas de produção nas indústrias, sobretudo àquelas relacionadas à atividade nos abatedouros e frigoríficos de aves. Entre os anos de 2010 a 2013, a região norte do Paraná acolheu um crescente número desses imigrantes, especialmente nos municípios de Maringá e Mandaguari, o que justificou em parte a escolha e delimitação territorial da pesquisa. No que se refere à questão do trabalho, o município de Mandaguari, por necessitar de mão de obra, atraiu esses imigrantes, porém ocorreram algumas dificuldades como, por exemplo, a inserção da mulher no mercado de trabalho. Assim sendo, foram criadas redes de apoio através da igreja católica para o auxílio das famílias que estavam passando por dificuldades. Ademais, muitos avanços tornaram-se perceptíveis, como a criação de uma associação – a Associação do Estrangeiros de Mandaguari (ASSEM) –, que possibilitou uma maior socialização do grupo. Notou-se, também, que a constituição das redes de apoio proporcionou condições para vinda de novos imigrantes haitianos, construindo na realidade brasileira a identidade desse grupo. Assim, valendo-se do uso de entrevistas semi-direcionadas e da pesquisa com documentos e informações institucionais, foi possível observar o cotidiano desses imigrantes e suas estratégias adaptativas no novo espaço.