O uso de praguicidas vem sendo amplamente discutido, uma vez que esses compostos são considerados importantes contaminantes ambientais, em razão do amplo uso, o que aumenta a probabilidade da exposição e do aparecimento de efeitos adversos em organismo não-alvo. Além disso, dados sobre a toxicidade das misturas de praguicidas ainda são escassos. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a exposição a misturas complexas de praguicidas na população rural de Alfenas e região, além do estudo de endpoints que possam ser utilizados como biomarcadores de efeito e de dose interna, para a utilização no monitoramento biológico da exposição ocupacional a estas substâncias. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG (CAAE: 42673815.6.000.5142) e os voluntários responderam um questionário para levantamento de dados clínicos. Foram realizadas provas de funções hepática e renal, para subsidiar a avaliação do risco. Na avaliação da exposição ambiental a misturas, participaram voluntários moradores da zona rural (n = 331) nos quais foram avaliados efeitos genotóxicos, pelo ensaio do cometa alcalino e do ensaio do citoma micronúcleo, em células de mucosa bucal (BMCyt), sendo estes dados comparados com amostras de moradores da zona urbana (n= 53). Na avaliação de potenciais biomarcadores de exposição aos fungicidas triazois, foi desenvolvido e validado, de acordo com normas nacionais e internacionais, um método VALLME-GC/MS para triazóis urinários, em amostras de expostos (n = 58). Ainda, foram avaliados endpoints hormonais (níveis de testosterona e androstenediona), estresse oxidativo (malondialdeído, proteínas oxidadas, GSH e razão GSH/GSSG) e níveis plasmáticos de ácidos biliares, que foram comparados com amostras de 30 moradores da zona urbana. Pela análise dos resultados, houve alterações em sistemas em voluntários expostos. Em relação aos dados de genotoxicidade, houve mudança nos parâmetros avaliados pelo ensaio do BMCyt, em comparação ao grupo não exposto (Mann-Whitney, 5 % de significância). Verificou-se maior frequência de micronúcleos e células binucleadas (p < 0,05), maior frequência de células com núcleos em cariorrexe, cariolíticos e picnóticos (p < 0,05) nos voluntários expostos. Porém, na análise do potencial proliferativo não foi encontrada diferença estatística na frequência de células basais, entre os grupos. No ensaio do cometa, foi verificado que a comparação das médias do tail moment (TM) dos voluntários expostos e controle foi estatisticamente diferente (p < 0,05), sem estratificação por sexo, com índice relativo de dano calculado relativamente alto, nos expostos. Em relação à exposição aos triazóis, não foi verificada diferença significativa entre os dados dos moradores da zona rural (expostos e controle campo; p > 0,05), para os ácidos cólico e deoxicólico, e ácidos conjugados com taurina, porém houve um aumento significativo da concentração dos ácidos biliares conjugados com glicina, com diferença estatística entre os três grupos estudados. Para o estresse oxidativo, não houve diferença significativa entre os expostos e os moradores da zona rural. Já, a concentração média de testosterona foi menor em expostos, em relação aos outros grupos, com diferença entre os moradores da zona rural e da cidade (Mann-Whitney, p < 0,05). Ainda, observou-se diminuição na concentração de androstenediona, nos expostos, de forma significativa (p < 0,05), o que sugere a existência de um mecanismo desregulador da esteroidogênese, anterior a formação de estrógenos pela aromatase. Isto posto, os resultados obtidos no presente estudo dão subsídios para a proposição de biomarcadores, ferramentas essenciais na avaliação da exposição e do risco aos xenobióticos.