Este trabalho de pesquisa tem por objetivo analisar, nos discursos das mídias, a relação entre o poder disciplinar dos corpos e a culpabilização da mulher vítima de estupro, tendo como base teórica-metodológica a corrente de estudos da Análise do Discurso de tradição francesa, com os postulados de Michel Foucault. Neste contexto, a metodologia está baseada no método arqueogenealógico, responsável por demonstrar que as relações de poder são inerentes a todas e quaisquer práticas discursivas, seguindo o trajeto temático, o estupro contra a mulher e a disciplina do corpo feminino, com os eixos: a) a mulher e o corpo disciplinado; b) a mulher e a sexualidade; c) a mulher e o estupro. A partir desse trajeto, o corpus de análise foi montado por diferentes gêneros discursivos presentes no dispositivo das mídias, como propaganda, publicidades, músicas, notícias, comentários da web, entre outros, responsáveis por proliferar a chamada cultura do estupro ao criar efeitos de sentido de culpabilidade da mulher violada. Para embasar a análise, também foi utilizada a interdisciplinaridade com outras áreas epistemológicas, dentre elas encontram-se os estudos antropológicos e psicológicos de Charam (1997), Saffioti (1987; 1994; 2004) e Faria e Castro (2013); os da história das mulheres de Perrot (2003; 2005; 2013), Priore (1994; 2008; 2011) e Beauvoir (1970); os estudos das mídias de Silverstone (2005) e Charaudeau (2006); e os do direito de Rossi (2016), Martins (2013), Nucci (2009; 2014), Gonçalves (2011) e Pierangelli (1980). A partir da reflexão feita, constatamos que o fenômeno da culpabilização da vítima de estupro, nas mídias, se dá de forma mais acentuada, quando ela resiste às imposições históricas prescritas ao seu corpo culturalmente, por isso, alguns seguimentos dessa instituição de poder se utilizam de artifícios para adestrar os corpos femininos, atacando a sua “moral”, tais como o uso de roupas curtas, o consumo de drogas ou bebidas alcoólicas, o fato de a vítima sair sozinha à noite ou pegar/dar carona com um desconhecido, comportamentos tidos como impróprios para as mulheres e, muitas vezes, utilizados como desculpa para absolver, socialmente, o estuprador.