Clarice Lispector figura entre os autores brasileiros mais traduzidos no exterior. Dentre suas obras, A hora da estrela é a mais requisitada por editoras internacionais (BIBLIOTECA NACIONAL, 2016). Esta dissertação tem como objetivo analisar as duas traduções, do português para o inglês, de A hora da estrela, de Clarice Lispector, para mostrar como foram traduzidos os aspectos estilísticos da escritura clariceana, quais sejam: uso da pontuação, repetição, ritmo, uso de interjeições e união de vocábulos. A primeira tradução da referida obra foi feita por Giovanni Pontiero e publicada pela editora Carcanet Press, no Reino Unido, em 1964. A reimpressão dessa primeira tradução, analisada nesta dissertação, foi publicada em 1992 pela editora New Directions Paperwork, nos Estados Unidos. A segunda tradução foi feita por Benjamin Moser e publicada pela editora New Directions, em 2011, nos Estados Unidos. As duas traduções receberam o mesmo título: The hour of the star. A fim de examinar como a obra em questão tem circulado nos países em que foi publicada, são analisadas ambas as traduções do referido romance, dando enfoque aos aspectos estilísticos, às práticas editoriais, à crítica e à recepção da obra nos diferentes momentos de sua publicação em língua inglesa. Inserida nos Estudos Descritivos da Tradução, esta dissertação parte da teoria dos polissistemas (EVEN-ZOHAR, 1978; TOURY, 1980; BASSNETT, 1980) e usa como metodologia o esquema teórico-metodológico proposto por Lambert e Van Gorp (1985) para a descrição sistemática de traduções literárias. Composto de quatro etapas, esse esquema fundamenta as descrições das traduções para o inglês e a comparação entre elas e o respectivo texto de partida, almejando também analisar os contextos literários e extraliterários envolvidos no processo de tradução da obra nas culturas receptoras. São consideradas, também, questões referentes à história da tradução e do tradutor e às fontes primárias, como entrevistas, comentários e publicações dos tradutores e dos agentes envolvidos no processo de tradução (MUNDAY, 2014; GENETTE, 2009). Com base em Berman (2013), foi feita a análise dos exemplos selecionados do texto de partida e das duas traduções. A abordagem dos tradutores quanto aos aspectos estilísticos da escritura clariceana foi diversa. Pontiero (1992) tende a reformular o texto de forma a produzir uma tradução em língua inglesa de acordo com a norma padrão da língua, modificando em grande medida os aspectos estilísticos analisados. Moser (2011) se mantém bem mais próximo do texto de partida, reproduzindo, na língua inglesa, as estruturas sintáticas truncadas e os estranhamentos da escritura clariceana. Com esta dissertação, pretende-se fornecer uma contribuição para estudos da tradução, além de expandir o interesse em estudos descritivos da tradução com ênfase na transferência de obras brasileiras no exterior.