Introdução: A violência contra a mulheres representa uma das mais importantes violações aos Direitos Humanos. Entre as várias formas de agressão, as queimaduras destacam-se por serem lesões devastadoras devido aos sofrimentos físico e psicológico inflingidos. Nos estudos nacionais, há uma escassez de dados e as informações disponíveis mostram-se incompletas para a orientação de políticas públicas.
Objetivo: Esta pesquisa visa descrever os perfis epidemiológico e clínico das mulheres vítimas de queimaduras, intencionais ou acidentais, e identificar lacunas de notificação dos casos suspeitos de violência.
Método: A pesquisa foi realizada a partir de informações obtidas de documentos médicos da Unidade de Queimados do Hospital Regional da Asa Norte (Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal) e do Instituto de Medicina Legal (Polícia Civil do Distrito Federal) relacionados a agressões contra mulheres utilizando-se meio físico (ação térmica/queimaduras) ocorridas entre os anos 2010 e 2015.
Resultados: No período considerado do estudo, foram internadas na unidade de queimados ou submetidas a exames cadavérico no IML 456 pacientes do sexo feminino. Dessas, 59,4% eram procedentes do DF e 40,6% de outros estados, principalmente GO e MG. A faixa etária variou entre 6 meses e 91 anos (30,7+ 21,5). A média de superfície corporal queimada foi de 15% (+ 17,7). Em relação ao agente etiológico, a combustão de líquidos inflamáveis predominou ocorreu em 39,1% dos casos, seguida da escaldadura em 28,1%. Segundo as informações presentes nos documentos, os eventos foram caracterizados como acidentais em 80,6% e intencionais em 16,9% (em 2,5% dos casos não foi possível fazer a diferenciação). Considerando o tempo de intenação, a média foi de 15,3 (+15,6) dias. A mortalidade geral foi de 10,3%.
Conclusão: O perfil das mulheres vítimas de queimaduras deve ser estudado, constantemente atualizado e sempre considerado para que políticas públicas integradas, relacionando os sistemas de Saúde, Segurança Pública e Serviço Social, possam ser desenvolvidas visando a proteção dos grupos mais vulneráveis.