Quando analisada a importância do uso da água residuária de suinocultura (ARS) na irrigação de culturas agrícolas, observa-se uma escassez de informações científicas sobre a viabilidade técnica e ambiental do uso da mesma no estado do Espírito Santo. Torna-se evidente a necessidade de disponibilizar aos produtores rurais
tecnologias sustentáveis para a destinação adequada da ARS, já que é um subproduto rico em macro e micronutrientes. No entanto, devido à alta geração desse subproduto nas granjas suinícolas, sua alta carga orgânica, presença de metais pesados e sódio, a ARS é caracterizada como um resíduo com elevada carga poluidora e com potencial de afetar sobremaneira os mananciais hídricos e o solo, se descartada de forma inadequada. No Espírito Santo, as áreas agrícolas com cultivos de espécies de ciclo anual são caracterizadas pelo manejo do solo com aração e gradagem, práticas que deterioram a estrutura do solo. Associar o uso agrícola de um resíduo oriundo da produção animal, como a ARS, com o manejo conservacionista do solo, em sistema plantio direto, pode ser uma alternativa para redução do consumo de água e recuperação de áreas com solos degradados. Deste modo, o objetivo geral do trabalho foi avaliar o potencial de uso agrícola da ARS na irrigação da cultura do milho, cultivado sob diferentes sistemas de manejo do solo e lâminas de irrigação, caracterizando as alterações em atributos químicos e físicos do solo e teores foliares de macro e micronutrientes em trabalho desenvolvido a campo, durante dois ciclos sucessivos de milho visando a produção de silagem. O experimento foi implantado no esquema em faixas, sendo constituído por dois sistemas de manejo do solo (sistema de plantio convencional-SPC e sistema plantio
direto-SPD), cinco lâminas de irrigação com ARS (50%, 75%, 100%, 125% e 150% da evapotranspiração real da cultura-ETc do milho) e três repetições. A ARS utilizada no experimento foi proveniente do processo de digestão anaeróbia. Ao término de cada ciclo de cultivo foram coletadas amostras de solo nas profundidades de 0-10, 10-20 e 20-40 cm para a realização das análises químicas e físicas do solo. Quando as plantas apresentaram pendoamento, coletou-se as folhas do milho para determinação dos teores foliares de N, K, Cu e Zn. Os parâmetros
morfoagronômicos do milho foram avaliados quando as plantas apresentaram características adequadas para silagem. De modo geral, os teores dos nutrientes emiv solo tiveram acréscimo em todas as lâminas de aplicação de ARS, nos diferentes sistemas de manejo do solo, profundidades e ciclos de cultivo. Os teores de macro e micronutrientes determinados para a folha do milho estiveram abaixo dos níveis críticos estabelecidos em literatura, nos dois ciclos de cultivo de milho, exceto Cu que apresentou valores mais elevados. A produtividade de massa seca por hectare do milho respondeu linearmente, nos dois plantios, ao incremento nas doses de ARS, independente do sistema de manejo do solo, evidenciando que as respostas às lâminas de irrigação com ARS demandam menor tempo, comparativamente aos sistemas de manejo do solo, para promover alterações significativas no desenvolvimento do milho.