As hemoglobinas gigantes de bicamada hexagonal (HBL-Hbs), também chamadas de eritrocruorinas ou clorocruorinas, eram conhecidas por serem um pigmento sanguíneo exclusivo de anelídeos. Essas proteínas são compostas de 144 cadeias de globina extracelular, que se ligam reversivelmente ao oxigênio, e 36 cadeias de linkers, que são necessárias para a montagem da estrutura quaternária. Apesar de possuírem muitas subunidades, as HBL-Hbs são um complexo proteico extremamente estável e resistente à auto-oxidação que é capaz de transportar oxigênio para os tecidos sem produzir efeitos colaterais visíveis quando testado em mamíferos. Tais características tornam a HBL-Hb um candidato promissor para ser usado como substituto sanguíneo terapêutico em humanos. Estudos recentes acerca de outras proteínas transportadoras de oxigênio, como hemeritrinas e hemocianinas, demonstraram que elas apresentam uma distribuição filogenética muito mais ampla do que se pensava anteriormente, sugerindo que a diversidade dessas proteínas está subestimada nos animais. Com o objetivo de avaliar a real diversidade e estabelecer hipóteses sobre a história evolutiva dos genes responsáveis pela expressão das HBL-Hbs, foram feitas análises in silico, utilizando dados transcriptômicos e genômicos de 319 metazoários e 1 coanoflagelado. Após a anotação, foram encontrados 559 genes de globina extracelular e 414 genes de linker ativamente transcritos em 171 espécies distribuídas em 10 filos animais. Dentre eles, registros em Echinodermata, Hemichordata, Brachiopoda, Mollusca, Nemertea, Bryozoa, Platyhelminthes, Phoronida e Priapulida representam evidências completamente novas. Contrariando trabalhos anteriores que sugeriam que linkers e globinas extracelulares teriam surgido no ancestral comum dos anelídeos, os resultados aqui encontrados indicam que essas proteínas surgiram provavelmente antes da separação entre protostomados e deuterostomados, no ancestral nefrozoário. Como esperado, as topologias das árvores de genes não refletiram a filogenia de Metazoa, e isso pode ser resultado de uma história evolutiva muito antiga e complexa dessas proteínas, que inclui ganhos e perdas gênicas. A árvore dos genes de linker corroborou resultados de estudos anteriores que sugeriam a existência de três tipos de linkers em Annelida. No entanto, quando outros táxons metazoários foram incluídos nas análises, essa hipótese não foi corroborada. No que diz respeito aos genes de globina extracelular, a topologia da árvore confirmou a hipótese anterior de que existem duas linhagens principais de globina, A e B, embora a subdivisão adicional em dois subgrupos, A1/A2 e B1/B2 não tenha sido recuperada em anelídeos, nem em outros metazoários. Como a busca por linkers e globinas foi realizada de forma independente, isto forneceu uma validação cruzada dos resultados, reduzindo significativamente a taxa de falsos positivos. Os resultados apresentados aqui sugerem que a distribuição filogenética de pigmentos respiratórios em metazoários está de fato subestimada.