O objetivo dessa dissertação é analisar as possíveis relações entre memória, tradição, guerra e testemunho a partir da análise dos selecionados contos da obra Estórias abensonhadas do escritor moçambicano Mia Couto. O romance foi escrito no período pós-guerra de independência em 1992. A contística miacoutiana faz uma rememoração dos difíceis anos da cruel colonização portuguesa, bem como do período de luta pela descolonização e por fim, da guerra civil que assolou Moçambique entre os anos de 1975 e 1992. Serviram como parâmetro de análise, as categorias de narrador e personagem, que guiados pela memória, tentam recriar para o leitor importantes elementos da tradição moçambicana. Tal tradição encontra-se em constante relação com a modernidade. Através das narrativas é feita uma tentativa de se mostrar as imbricações entre a história de Moçambique e a guerra pela descolonização do país, assim como a posterior guerra civil. O testemunho, conceito tão recorrente no estudo da Shoa e de outras catástrofes, nasce, nessa análise, como proposta que tem por objetivo, não apenas denunciar os horrores da guerra, mas também contar a tradição moçambicana, ainda pouco ou nada conhecida no ocidente.