Câncer é o nome dado a um conjunto heterogêneo de doenças que têm em
comum a desregulação dos principais processos celulares. A quimioterapia
antineoplásica, um dos tratamentos existentes, utiliza medicamentos para
diminuir e ou eliminar a progressão tumoral e, entre os medicamentos
utilizados, destaca-se o uso do docetaxel, entretanto, tem se observado que
pequenas alterações na farmacocinética podem alterar significativamente sua
eficácia terapêutica e toxicidade; a quimiorresistência tem se apresentando
como um grande desafio para a prática clínica. O presente estudo desenvolveu
e validou metodologia bioanalítica, que torna possível a investigação da
variação da disposição cinética do docetaxel, analisado em plasma empregando
UHPLC-MS/MS, em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, submetidos à
quimioterapia, sendo 9 em primeiro ciclo e 3 em terceiro ciclo. Ainda, foram
realizados estudos antiproliferativos in vitro, em linhagem de células de câncer
de mama MDA-MB-23, para avaliação do potencial de sinergismo do
docetaxel associado ao pirogalol, bem como a capacidade de estimulação de
mediadores inflamatórios COX-2 e IL-6 por esta associação de substâncias. O
método bioanalítico para análise de docetaxel em plasma humano foi
desenvolvido e validado segundo a legislação vigente da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária RDC 27/2012. A metodologia analítica não apresentou
efeito matriz e os coeficientes de variação e os erros padrão relativos dos
estudos de precisão e exatidão foram inferiores a 15%. A linearidade do
método validado foi de 10-5000 ng/mL, sendo este intervalo linear, associado
ao tempo da análise (4,5min), adequado para aplicação em estudos
farmacocinéticos. A partir do método desenvolvido, foram avaliados pacientes
com câncer submetidos à quimioterapia com dose de 75 mg docetaxel/m² em
primeiro (n=9) e terceiro ciclos (n=3) de quimioterapia, com intervalo de 21 dias a cada ciclo, com coletas realizadas de 0-48h. As concentrações
plasmáticas determinadas experimentalmente, para cada paciente, com tempo
de colheita de 0–48h.Os pacientes incluídos no estudo apresentaram alta
variabilidade nos parâmetros farmacocinéticos AUC0-∞, ClT/f, Cmax e t1/2, sendo
observadas variações expressivas nos parâmetros farmacocinéticos entre os
indivíduos (ex.: AUC: de 890 a 4668 ng/mL.h; ClT/f: de 0,02 - 0,08 L/m2/h).
Houve também variações quanto à resposta clínica após o início do tratamento,
o que levou a mudança de conduta para 6 pacientes. Os 3 pacientes que
seguram até o terceiro ciclo, também não tiveram um padrão de
comportamento. Os resultados obtidos nos testes in vitro, utilizando linhagem
triplo negativo de câncer de mama (MDA-MB-231) demonstraram a
capacidade antiproliferativa do pirogalol (IC50 = 48 nM) e também que sua
combinação pode potencializar a resposta do docetaxel, mesmo em
concentrações não citotóxicas (<5nM), atuando sinergicamente (CI<1), com
efeitos adversos mínimos do pirogalol em linhagem celular normal de mama
MCF-12F, em concentrações inferiores a 0,2mM. A associação dos tratamentos
in vitro pirogalol-docetaxel demonstrou que o pirogalol foi capaz de reduzir o
efeito de indução da expressão dos mediadores inflamatórios COX-2 e IL-6,
participantes nos mecanismos de resistência associados ao câncer, comparada à
expressão dos mesmos, obtido quando o docetaxel não é associado.