O iodo é um micronutriente essencial para a biossíntese de hormônios tireoidianos e para o desenvolvimento neurológico fetal. Tem sido debatido se deve haver ou não a suplementação de iodo durante a gestação no Brasil, porém, ainda mais importante, é garantir um consumo adequado (150 μg/dia) e regular de iodo às mulheres em idade reprodutiva (IR), particularmente àquelas que planejam engravidar. O Brasil é considerado um país suficiente ou com excessivo consumo de iodo. No entanto, não há nenhum estudo de base populacional que tenha investigado o estado nutricional do iodo em mulheres na IR no país. O objetivo deste estudo foi avaliar o estado nutricional de iodo e sua associação com os hormônios tireoidianos em mulheres na IR da população Nipo-Brasileira de Bauru. Em 1997 a população total de mulheres ≥ 30 anos foi convidada a participar do estudo, da qual 116 em IR, com idade média de 39 ± 4,2 anos, livre de doenças tireoidianas, uso de hormônios tireoidianos, drogas antitireoidianas ou de medicamentos contendo iodo foram selecionadas para participar do estudo. Definiu-se como mulher em IR aquela entre 30 - 49 anos. Em análise transversal avaliou-se o estado nutricional do iodo e a função tireoidiana. A concentração de iodo urinário (CIU) foi analisada em amostra isolada de urina por método colorimétrico. As concentrações do TSH e do T4 livre foram determinadas em duplicata por ensaio imunofluorométrico. O estado tireoidiano predominante foi o eutireoidismo em 98 (84,5%), seguido pelo hipotireoidismo subclínico em 9 (7,8%), hipertireoidismo subclínico em 5 (4,3%) e o hipertireoidismo franco em 4 (3,4%) participantes. A CIU mediana da população foi 199,5 μg /L (P 25 – P 75: 129,3 - 259,8), considerada adequada. O estado nutricional de iodo foi classificado como excessivo em 16,4%, acima do necessário em 33,6%, adequado em 36,2% e deficiente em apenas 13,8% das participantes. Entretanto, 35 (30,2%) participantes não alcançaram a recomendação mínima (150 μg /dia) de consumo de iodo para mulheres na IR e em 50% delas foi maior que o necessário ou excessivo. A prevalência de hipotireoidismo subclínico foi significativamente maior nas participantes com CIU ≥ 150 μg/L comparado aquelas com CIU menor (p = 0,041), mas o risco ( Odds Ratio, OR) para hipotiroidismo subclínico foi modestamente associado com a iodúria apenas enquanto variável contínua [OR = 1,01 (IC 95%: 1,001 – 1,01), p = 0,046], em análise de regressão logística ajustada para idade, índice de massa corporal (IMC), tabagismo e autoimunidade tireoidiana. Em conclusão, a população feminina na IR da Comunidade Nipo-Brasileira de Bauru é suficiente em iodo, mas uma proporção significativa de mulheres não alcançaram as recomendações de consumo diário mínimo de 150 μg/L, enquanto em 50%, o estado nutricional foi considerado
maior que o necessário ou excessivo. Os dados chamam atenção para o risco de insuficência iódica durante a gestação, mesmo em uma população com consumo de iodo maior que o adequado, como é o caso do Estado de São Paulo, como também da suplementação iódica generalizada.