A força atrativa da polarização do capital na Tríplice Fronteira impulsiona a mobilidade física dos pais para o trabalho e de estudantes para a formação. A vivência integracionista que se materializa nesse espaço urbano gira em torno do eixo unificador, o turismo de lazer e de compras. Esse eixo centraliza o trabalho e a formação educacional. Quanto à formação e ao trabalho, visualiza-se uma distância entre o discurso e a ação. Acredita-se que há uma proposta de formação para o trabalho implícita pelo discurso não dito. Então este estudo busca entender a realidade dos alunos migrantes em suas trajetórias de mobilidade humana, ao apreender as novas possibilidades e os novos limites para o cidadão na perspectiva da educação, do capital e do trabalho no exercício de sua cidadania. Desse modo, adota como recorte espacial a área urbana da Tríplice Fronteira, formada pelas cidades de Foz do Iguaçu no estado do Paraná/Brasil, Ciudad del Este no departamento de Alto Paraná/Paraguai e Puerto Iguazú na província de Misiones/Argentina. E, como recorte temporal, o período de 1995-2018. Opta por uma metodologia de abordagem conjunta da pesquisa qualitativa, pela coleta de 57 entrevistas semiestruturadas, e quantitativa, com aplicação de 1626 formulários preenchidos por estudantes fronteiriços matriculados no ensino médio em 26 instituições públicas e privadas das três cidades. Utiliza a foto-resposta para a discussão da compreensão da mobilidade nessa região. O método do materialismo histórico permite evidenciar as contradições entre Estado Nação e Globalização, Estado e Sociedade Civil, políticas públicas de Regulação e de Emancipação Social, onde se encontra armadilhada a questão da cidadania. Evidencia-se que a ordem mundial e a local constituem o conteúdo geográfico do cotidiano fronteiriço. Ali se verificam características comuns entre os territórios e elementos que se fazem dominantes sobre outros, hierarquizando espaços. Os Estados Nacionais (Brasil, Paraguai e Argentina), ao disponibilizarem suas instituições a serviço da política econômica, priorizam o capital. Assim, a centralidade política para a formação desconsidera possibilidades de preparar o ser humano autônomo, que sabe pensar e intervir na sociedade. A estatização do saber (Proposta Curricular do Estado) a serviço da sociedade capitalista perpetua no trabalhador uma condição de dependência em relação ao controle dos processos do trabalho e ao poder econômico dos meios do trabalho. Essa análise permite concluir que, pela ausência de políticas de emprego e renda dentro de um projeto de desenvolvimento social para o trabalho nesta região, na mobilidade para formação, os indivíduos buscam adquirir competências e habilidades no campo cognitivo para se tornarem competitivos e empregáveis, ou criarem o autoemprego no contexto de uma economia de sobrevivência. Trata-se de uma política responsável pela constituição de um sujeito necessário ao capital em seu processo de acumulação e que edifica um indivíduo com cidadania negada em diversos lugares, que se mobiliza entre fronteiras com a finalidade de propiciar o consumo de mercadorias, de serviços e do espaço.