Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa sobre as trajetórias de luta contra os manicômios no Brasil e na Itália, compreendidas como expressão particular da luta de classes nesses países, no período histórico em que se desenvolveram. As noções de consciência e de estratégia na luta de classes, essenciais para a leitura sobre o agir das classes em luta, foram as ferramentas empregadas na tessitura desse enlace entre particular e universal. A exposição dos resultados obtidos na investigação foi dividida em três partes, de distintas proporções. A primeira e mais sucinta apresenta as bases conceituais do trabalho, através de breves delineamentos teóricos e históricos. Para além das categorias já referidas, efetua-se um sobrevoo panorâmico sobre o contexto geral do desenvolvimento capitalista e da luta de classes no século XX, com ênfase no pós- Segunda Grande Guerra. A segunda parte se dirige à dinâmica histórica própria, mas ainda geral, em que os movimentos particulares que serão objeto especifico do estudo estiveram inseridos: as lutas da classe trabalhadora no Brasil e na Itália neste período. Em ambas as trajetórias a democracia esteve centralmente colocada como elemento estratégico, servindo como guia para a movimentação geral da classe, que sintetizou-se, respectivamente, na atuação do Partido dos Trabalhadores e do Partido Comunista Italiano. A terceira e mais extensa parte da tese abarcará diretamente a trajetória dos movimentos antimanicomial brasileiro e anti-institucional italiano, iluminando os elos entre tais percursos específicos e o plano mais geral de lutas em que se desenrolaram. As propostas de reforma da psiquiatria engendradas nessas trajetórias se desenvolveram de modo conexo à aposta estratégica na democracia, apoiada na ideia de sustentação popular de transformações realizadas centralmente através da via institucional, pela ocupação de espaços no interior do Estado. O alcance das propostas setoriais, bem como seus limites e impasses serão pensados de modo articulado às trajetórias mais gerais da classe trabalhadora, que, diversamente do que se pretendia inicialmente, culminaram com o recuo do horizonte emancipatório.