No mundo contemporâneo, tem sido cada vez mais frequente a hibridização de gêneros textuais.
A humanidade, na tentativa de demostrar seu senso crítico diante de determinados fatos sociais,
vem, ao longo do tempo, mudando sua forma de produzir textos, e, com isso, vem deixando de
considerar apenas elementos verbais, passando a recorrer a vários recursos semióticos. Com o
apoio de várias ferramentas tecnológicas, estamos dia a dia ampliando a nossa visão em relação
às práticas textuais. Se durante a trajetória da Linguística Textual o componente verbal
prevalecia e, por isso, apresentava subsídios necessários para a produção de sentido, no contexto
atual ele necessita de mais respaldo. Dessa forma, entendemos que para atender a demanda do
mundo moderno, o texto precisa ser cada vez mais multimodal. Cientes dessa realidade,
designamos como objeto de estudo um gênero composto por muitas semioses, especificamente,
um vídeo remix político. Nesse sentido, o corpus da pesquisa é constituído pelo remix Acordo
Nacional1, video produzido pelo grupo brasileiro Os Trabalhistas. Nosso principal objetivo é
analisar os recursos multimodais e as relações intertextuais presentes no remix. Para
conseguirmos alcançar o que propomos, formulamos os seguintes questionamentos: Como os
recursos multimodais, quanto à relação sócio-interativa entre os participantes representados nas
imagens e os seus espectadores, são abordados no remix político em análise? E, quanto a forma
e à função, quais relações intertextuais são apresentadas para se fazer jus ao processo do
presente remix? Para pôr em prática a nossa proposta, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa
de cunho descritivo e analítico. Para isso, buscamos respaldo na Gramática do Design Visual -
GDV, de Kress e van Leeuwen (1996; 2006), especificamente no Significado Interacional, que
trata das relações interativas que se estabelecem entre os participantes representados nas
imagens e as pessoas que os observam, e considera, para a produção de efeitos de sentidos
aspectos como o contato, a distância social, a perspectiva e a modalidade, bem como no modelo
de análise proposto por Mozdzenski (2013), que estabelece que as relações intertextuais devem
ser observadas em um contínuo tipológico. Para a fundamentação teórica, além dos autores já
citados, contamos principalmente com os aportes de Genette (1979; 2010), Piègay-Gros (1996),
Knobel e Lankshear (2007; 2011), Manovich (2005; 2007; 2010; 2011; 2013), Navas (2008;
2010), Fernandes e Almeida (2008), Almeida (2012), Queiroz (2015), Zepel (2011), Iedema
(2001), O’Halloran (2004), Baldry e Thibault (2006), Hendges e Nascimento (2016) entre
outros. No que concerne aos resultados, entendemos que os recursos multimodais e as relações
intertextuais foram utilizados como ferramentas de crítica. Os Trabalhistas recorreram à prática
do remix para mostrar a sua ideologia. De forma peculiar, em tom de comicidade, o grupo
converteu em vídeo, o áudio de dois políticos brasileiros e assim, criticou O Grande Acordo
Nacional, deixando claro para o Brasil o seu posicionamento contrário àquele acontecimento.