A loucura como forma de representação ficcional da realidade suscita questões acerca da marginalidade e exclusão social sofridas pelo personagem louco, cuja subjetividade revela uma gama de discursos sobre o tema. Assim, tais problemáticas constituem o ponto focal da presente pesquisa, cujo objetivo consiste em analisar a representação da loucura e do personagem louco enquanto protagonista em autores da narrativa curta brasileira do século XX. O corpus é composto pelas narrativas ―Como o ‗homem‘ chegou‖ (2012), de Lima Barreto; ―Morro do Isolamento‖ (2018), de Rubem Braga, e ―Casa de loucos‖ (1976), de João Antônio. Seguindo tal percurso reflexivo, tenciona-se analisar as referidas narrativas à luz dos conceitos de Bosi (1979, 2006), Nadia Gotlib (1985), Magalhães Junior (1972), Córtazar (2006), Mônica Rector (2015) e Polinésio (1994), Coutinho (2006) que trazem considerações sobre a narrativa curta no Brasil, além de Candido (2006), que trata da relação literatura e sociedade. Quanto à teoria que aborda a loucura, dialoga-se com Foucault (1978), Erasmo de Rotterdam (2017), Machado (2005), Frayze-Pereira (2007) e Freud (2011), dentre outros. Acrescente-se ainda a fortuna crítica dos escritores Lima Barreto, Rubem Braga e João Antônio sobre as referidas questões. Do ponto de vista metodológico, esta pesquisa é predominantemente bibliográfica, de cunho crítico-analítico, embasado na abordagem qualitativa e no método dedutivo. De modo geral, pode-se afirmar que o tratamento dado à temática da loucura e a representação do louco nos textos literários dos autores analisados vêm absorvendo e representando as diferentes manifestações da loucura, conforme o seu contexto. Quanto às análises das narrativas, estas trazem o personagem louco figurando como protagonista, embora represente um sujeito social marginalizado. Evidenciam a cidade como um espaço de segregação social e apontam a marginalidade do personagem louco aliada não apenas às suas condições psicológicas, mas a isso agregada à negligência social consequente do preconceito quanto ao personagem considerado como louco.